Foi confirmada esta quarta-feira, dia 8 de maio, em território português, mais precisamente, no Parque Natural de Montesinho, a presença de um exemplar do urso-pardo. Quem o confirmou foi o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), após terem sido avisados pelas autoridades espanholas. Para já, pensa-se que este será o único exemplar a rondar o interior norte do país, próximo da fronteira.
Ao que se sabe, o exemplar de urso-pardo terá consumido mais de 50 quilos de mel de um apicultor local. Ao PÚBLICO, o dono da empresa de mel Apimonte, Luís Correia, terá contado que no dia 29 de Abril, aquando de uma visita a um dos apiários da empresa que fica “a uns 700 metros” da fronteira espanhola, reparou que uma das redes tinha sido parcialmente destruída e que lhe faltava uma das colmeias. “Tentamos perceber rapidamente o que se tinha passado e fomos encontrar a colmeia a uns 30 metros, sem quadros, sem cera, sem abelhas, sem nada. Os quadros comidos e espalhados pelo chão”, afirmou o apicultor, que decidiu contatar o ICNF logo no dia seguinte.
Ligado ao negócio do mel há 17 anos, Luís Correia revela que nunca lhe tinha acontecido algo semelhante. Os ataques continuaram nos dias que se sucederam e só depois é que o apicultor terá sido informado que se tratava de um urso-pardo por causa das pegadas e do pelo que deixou na rede.
Apesar dos danos materiais e financeiros, o apicultor, cujas colmeias são as únicas no raio de alguns quilómetros, disse ao Público que o urso até é bem-vindo e que pode voltar, “se não estragar muito”. “Temos sempre receito porque a apicultura é uma atividade muito cara, mas queremos acarinhar o urso, a ver se ele fica por aqui. O regresso desta espécie já era aguardado há muito. Gostamos que os animais venham para aqui porque caso contrário o parque natural torna-se pobre em termos de biodiversidade”, referiu Luís Correia, à mesma fonte, avisando, no entanto, que caso os ataques comecem a ser mais frequentes, a empresa passará a vigiar os seus apiários com sistemas de videovigilância ou a proteger as colmeias com redes ou fios elétricos.
Ontem, dia 10 de abril, uma fonte do ICNF garantiu à agência Lusa que a probabilidade de existirem outros exemplares de urso-pardo no Parque Natural do Montesinho, no distrito de Bragança, junto à fronteira com Espanha, “é muito baixa” devido ao tamanho e “comportamento destes animais”.
De acordo com uma resposta do ICNF enviada à Lusa, a presença de um urso-pardo em Portugal, no Parque Natural do Montesinho está confirmada desde o final do mês de abril, tendo sido detetado em vários pontos do parque, junto da fronteira com Espanha, a norte do concelho de Bragança.
Segundo o ICNF, este tipo de deslocação é típico de indivíduos dispersantes, jovens e provenientes de populações abundantes como é a população da cordilheira cantábrica.
"Dá-se a circunstância de ser a primeira vez, nos últimos dois séculos, em que a presença desta espécie no país vizinho é confirmada de maneira confiável", asseguraram as autoridades regionais espanholas à Agência Lusa.
O animal avistado na região de Sanabria "pode pertencer" à subpopulação ocidental da Cantábria, que tem cerca de 280 exemplares e, a julgar pelos sinais detetados, pode ser um adulto em dispersão, de acordo com o Serviço Territorial de Meio Ambiente de Zamora.
O último urso-pardo que viveu em Portugal foi morto em 1843 no Gerês, depois de ter existido em todo o país, assegura o livro "Urso Pardo em Portugal - Crónica de uma extinção", de Paulo Caetano e Miguel Brandão Pimenta, publicado em 2017.
Segundo o ‘site’ "Portugal num mapa", o urso-pardo é a segunda maior espécie de carnívoro do mundo, a seguir ao urso-polar, sendo que um exemplar adulto mede em média 1,4 a 2,8 m de comprimento (inclui-se a cauda) quando está sobre as quatro patas, pesando os machos mais de 200 quilogramas e as fêmeas mais de 150.