Os dois primeiros fins de semana de outubro vão transformar Bragança num palco da música erudita com um festival que quer chegar “a todos”, com espetáculos ao nível dos de Berlim ou Nova Iorque, divulgou hoje a organização.
Pela primeira vez, a cidade portuguesa mais longe da capital do país receberá seis concertos divididos por dois fins de semana, com nomes da música erudita portuguesa e estrangeira, de dimensão internacional, metade dos quais gratuitos e, a outra metade, a sete euros o bilhete, com descontos.
Trata-se da primeira edição do Festival Internacional de Música Bragança ClassicFest, com direção artística de Filipe Pinto-Ribeiro que garantiu, hoje, na apresentação do evento, que “um festival destes poderia estar a acontecer em Berlim, em Nova Iorque, em Xangai”.
“Chegar a todos” é o propósito da organização, que expressa a vontade de que o festival não fique apenas, em termos de público, por aqueles que já costumam ouvir música clássica.
“Não há barreiras económicas, sociais ou culturais que façam com que as pessoas se sintam excluídas”, assegurou, exemplificando com o preço dos bilhetes de “um concerto da Orquestra de São Petersburgo, que pode custar 50 euros ou mais em Genebra e, em Bragança, um deles é gratuito”.
A Orquestra de Câmara de São Petersburgo abre o festival, no Teatro Municipal de Bragança, a 01 de outubro, data em que se assinala o Dia Mundial da Música e em que, como em todas as efemérides culturais, aquele equipamento tem entrada gratuita.
A renomeada orquestra russa vai interpretar obras de compositores como Mozart e Tchaikovsky, assim como de Carlos Seixas, músico português do século XVIII, como contou o diretor artístico do festival.
Nos dois fins de semana de outubro, de 01 a 03 e de 08 a 10, estão programados concertos com alguns dos mais aclamados músicos, nomeadamente as violinistas Diana Tishchenko, ucraniana, e Karen Gomyo, canadiana, o pianista português Filipe Pinto-Ribeiro e o bandoneonista argentino Héctor Del Curto, entre outros grandes intérpretes.
Os concertos decorrem na sala do Teatro Municipal de Bragança e em espaços históricos da cidade, como a Igreja da Sé e a Igreja de Santa Maria, na cidadela do Castelo de Bragança.
O festival comemora também o centenário do nascimento do compositor argentio Astor Piazzolla, criador do chamado “nuevo tango”.
Além do contacto com “grandes intérpretes” o público poderá ficar a conhecer algumas curiosidades, como um violino Stradivarius, “que vale mais de dez milhões de euros” e vai ser tocado em dois concertos em Bragança.
O diretor artístico espera que este festival consiga esbater algumas barreiras como a “redoma de especialização e de erudição”, em que “às vezes está muito fechada a música clássica”, e o mito de que não é para toda a gente.
Filipe Pinto-Ribeiro lembrou que a “música clássica está de facto presente na vida das pessoas, ela inspira muitas músicas populares”, está presente "nos filmes, nas séries, nas telenovelas, em tantos anúncios”.
“As pessoas quando ouvirem vão dizer, mas eu conheço este tema dali e este daquele anúncio, e este é daquele banco, daquele carro, há toques de telemóvel, canções que estão nos álbuns de cantores como Dulce Pontes”, apontou.
O festival é organizado pela Câmara de Bragança e pelo Teatro Municipal, pela DSCH Associação Musical, e tem como mecenas a Fundação La Caixa BPI, que ajuda a financiar os 100 mil euros de orçamento.
Bragança foi a cidade escolhida para o evento porque, como justificou o diretor do festival, “há um potencial imenso”.
“É muito simbólico que a cidade portuguesa que está mais longe da capital receba um evento de excelência internacional, consiga atrair intérpretes internacionais, e estou convencido de que também atrairá público de várias paragens, nomeadamente de Espanha”, afirmou.
A organização acredita igualmente no impacto do evento na economia local, com a presença de “dezenas de músicos” que irão ficar alojados e consumir, além do público que será atraído pelos concertos.
O diretor do Teatro Municipal de Bragança, Cristiano Cunha, espera ter a oportunidade de envolver público mais novo, nomeadamente das escolas, e de levar um dos músicos de renome internacional ao Conservatório de Música e Dança de Bragança, para se encontrar com alguns alunos.