Uma janela para a liberdade através do riso no ímpeto do Festival Literário nas cadeias de Bragança e Izeda

A sexta edição do Festival Literário de Bragança levou a já célebre risoterapia aos dois estabelecimentos prisionais do concelho da Capital de Distrito.

Foram algumas dezenas de reclusos que, ao decidirem participar, de forma voluntária, se permitiram a eles próprios saírem por entre as grades das paredes de cimento que, comummente, os desconetam da realidade, para serem transportados, nem que só por momentos, nem que só em pensamento, à tão ansiada liberdade do mundo exterior através do convívio, da boa disposição, do riso, da socialização e da alegria que só uma sonora gargalhada providencia.

E se rir é o melhor remédio como diz a célebre expressão tantas vezes parafraseada, então os reclusos tomaram a medicação certa na dose ideal, pois se, a princípio, o rosto por detrás das máscaras escondia uma certa timidez, o trabalho excecional levado a cabo pela profissional do riso, Manuela Bulcão, conseguiu fazer a diferença, deixando os, naturalmente, desconfiados pelas experiências do passado à vontade com vários exercícios de respiração ao ritmo da música do mundo que, em uníssono, com o riso libertaram todos os que tiveram o privilégio de assistir às duas sessões de risoterapia por ela orientadas, uma em cada estabelecimento prisional, usufruindo, assim, a população prisional da risoterapia e dos seus inúmeros efeitos terapêuticos já comprovados.

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Mas o que é isso de risoterapia?A risoterapia foi inventada há alguns anos na Índia por um médico casado com uma professora de yoga, sendo que a sua finalidade era tornar as pessoas mais felizes, aliada aos movimentos que se faz com o respetivo corpo, os movimentos faciais, respiratórios, nós ao provocarmos o riso o nosso cérebro não consegue distinguir entre o riso forçado e o riso espontâneo e nós ao forçar o riso, passados dois ou três segundos já se começa voluntariamente a rir”, explica Manuela Bulcão, responsável pelos momentos descontraídos que se viveram no interior das cadeias de Bragança e Izeda. De acordo com a terapeuta, este processo liberta “serotonina, responsável pela boa disposição e, também, vai ajudar o nosso sistema imunológico”. Em suma, “uma pessoa feliz tem uma maior longevidade e, no fundo, a terapia do riso é proporcionar felicidade”, garante a especialista açoriana que, com “um grupo de senhoras”, apresentou na ONU o projeto “Felicidade dos Povos – Um direito humano” que tem como premissa que o riso seja reconhecido como um direito humano básico.

E como se provoca, então, o riso?Nós provocamos esse riso com exercícios próprios que existem. Vamos provocar, através de movimentos e do riso, o riso da garganta e o riso da parte abdominal. Vamos provocar o riso para que as pessoas se libertem e fiquem mais felizes. Não é preciso anedotas. É preciso olhar para dentro de nós e pensar em algo que nos faça ou tenha feito felizes", revela Manuela Bulcão.

A Kapital do NordestE entrevistou, ainda, a recém-empossada diretora do estabelecimento prisional de Bragança. Nascida em Lisboa, mas a residir "há muitos anos em Coimbra", Paula Sobral conta com três décadas de "trabalho de direção noutros estabelecimentos" e, por isso, sabe, perfeitamente, a importância de abrir as portas da instituição à sociedade, de trazer este tipo de eventos aos reclusos, de forma a “rasgar-lhes” o horizonte, no bom sentido, integrando-os, pouco a pouco, na comunidade onde se irão inserir aquando da chegada da liberdade, pois todas as penas têm um fim, pelo menos, em Portugal.

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"É uma forma que tem dado muitas provas de ser eficaz porque cumpre vários objetivos. Por um lado, as pessoas percebem que a pessoa que aqui está é uma pessoa e que não deixa de ser um cidadão só porque está privado da sua liberdade. Da parte dos reclusos também lhe dá algum sentido de normalidade e de socialização que se tende a perder", assevera a nova diretora que, recentemente, assumiu o cargo ocupado por Mário Torrão, após a tomada de posse a 18 de maio. Nas palavras da responsável pelo estabelecimento prisional que, atualmente, alberga cerca de 80 reclusos, "este tipo de atividades só traz vantagens", sendo que nesta, em particular, participaram, sensivelmente, 25 reclusos. Ou seja, quase um terço da população que, em Bragança, se encontra privada de liberdade.

"Estou vocacionada para este tipo de trabalho, para esta interação e só assim é que isto faz sentido. O trabalho de inserção não é um trabalho do estabelecimento prisional, mas antes um trabalho de toda a sociedade, dos meios de comunicação, das autarquias, das juntas de freguesia e eu digo isto convictamente, não porque é bonito dizê-lo, mas acho mesmo que ninguém reinsere ninguém, ninguém prepara ninguém para a liberdade em cativeiro", defende Paula Sobral que, no final, daquele que foi o seu "primeiro momento público", quis deixar uma nota de agradecimento ao Município de Bragança, representado pela vereadora da Cultura, Fernanda Silva, pelo seu "envolvimento de grande generosidade" nestes eventos "que partilha connosco".

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TERAPEUTA MANUELA BULCÃO

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