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Redes de proximidade em união concertada de esforços no combate à pobreza em Bragança

Teve lugar, na passada quarta-feira, dia 15 de novembro, um encontro de redes institucionais e informais, de proximidade, no combate à pobreza.

Entre o Centro Social Paroquial dos Santos Mártires (CSPSM), a Cáritas Diocesana, o Núcleo Distrital de Bragança da Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN) e o município de Bragança, todos se envolveram no debate de ideias e apresentação de soluções com o intuito de mitigar a pobreza crescente e a exclusão social que dela advém, que grassam do seio da cidade até às periferias.

De todas as propostas colocadas sobre a mesa, a que mereceu mais destaque foi a decisão do CSPSM em implementar, entre outras iniciativas, o projeto "Famílias Vizinhas" que surge com a premissa de tentar amenizar aquele que é um dos flagelos dos nossos dias e que só se tem agravado nos últimos tempos com o aumento de impostos e consequente custo de vida.

A proposta que iremos fazer é um trabalho com "Famílias Vizinhas" que é aquilo que o Papa Francisco propõe na sua mensagem. Nós apoiarmos famílias que tenham pobres ao seu lado ou pessoas mais vulneráveis e nós capacitarmos essas famílias, através das nossas instituições, para que elas possam prestar, depois, um serviço de maior proximidade, de maior conhecimento para com todos aqueles que necessitem de ajuda. É essa a proposta que iremos apresentar”, sustenta o padre José Bento, que crê, solenemente, que ao escolher certas famílias (vizinhas) e após capacitá-las com as ferramentas necessárias, serão elas “as mediadoras de bairro, precisamente, para que elas possam chegar às pessoas que estejam a passar por momentos de dificuldade, pobreza ou solidão, porque os vizinhos de casa dão uma outra confiança do que, propriamente, uma intervenção técnica muito elaborada e muito administrativa”.

Nas palavras do pároco que, no encontro de dia 15, falava com conhecimento de causa do papel crucial da Igreja e da Paróquia, nas chamadas redes informais, o combate à pobreza só é possível quando se “cria uma relação de amizade” e quando “se escuta as pessoas mais pobres, mais vulneráveis” e daí a preciosidade deste projeto, já que “estas famílias que queremos selecionar e capacitar para, depois, intervir terão, também, muito essa função da escuta”.

Questionado pela Kapital do NordestE (KNE) sobre se há muita miséria na cidade Capital de Distrito, o pároco padre José Bento é perentório em afirmar que “nos bairros da nossa paróquia há muita pobreza, os Formarigos, uma parte do Bairro da Coxa, temos outras situações limite, depois, temos sim um outro tipo de pobreza de muitas pessoas a viverem na solidão, sozinhas, sobretudo, idosos, e estamos, agora, a receber bastantes migrantes e muitos deles vêm bater à nossa porta solicitando coisas, bem como jovens estudantes que vêm e que precisam do nosso apoio”.

E neste altura do ano, em concreto, com o inverno já quase aí à porta, o bem mais premente é, sem dúvida, para além da comida, o vestuário de época. Daí o lançamento da campanha “Com S. Martinho partilha o casaquinho”. De acordo com o pároco responsável pelo CSPSM, esta iniciativa foi lançada, precisamente, “para ajudarmos as pessoas a partilhar, sobretudo, roupa porque isso está a ser, nesta fase, muito solicitado”. O entrevistado lembra, ainda, o almoço que será levado a cabo e para o qual serão convidadas “algumas pessoas que passam por momentos complicados de vulnerabilidade, de forma a sentirem a nossa amizade, a nossa companhia e a nossa presença”.

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“Verdadeiramente escutar os mais desfavorecidos é o primeiro passo no combate à pobreza”, Padre Bento

 

Sobre o combate à pobreza, o padre Bento como é mais conhecido entre os fiéis, procura no Papa Francisco inspiração, vendo-O como uma fonte de sabedoria, e citando-O, por diversas vezes, advoga que é necessário “arranjar estratégias que permitam a conciliação de esforços para colocar o pobre em primeiro lugar e criar, também, oportunidades para que o pobre tenha voz e possa dar a sua participação ativa na escolha do melhor caminho para que a resolução e o combate à pobreza possa ser feito”.

A KNE conversou, também, com Fernanda Silva do Município de Bragança, entidade coordenadora da rede social.

Estamos, só agora, a traçar e a conhecer melhor o perfil das famílias para, depois, trabalharmos, de forma integrada, com a Segurança Social essa componente”, assume a vereadora, até porque o Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social (SAAS), só abriu portas a 3 de abril.

De salientar que esta resposta social, criada na sequência da transferência de competências para as autarquias, tem como objetivos garantir o atendimento e acompanhamento social da população em situação de maior fragilidade social, desenvolver mecanismos de autonomia e reforço das redes de suporte familiar e social, prevenir situações de vulnerabilidade social como a pobreza e a exclusão social, informar, aconselhar e encaminhar a franja da população mais carenciada e suscetível de maiores dificuldades para respostas e serviços sociais adequados a cada situação, mobilizando os recursos necessários da comunidade adequados à progressiva autonomia pessoal, social e profissional.

Sobre a iniciativa impulsionada pelo CSPSM, em parceria com a Cáritas Diocesana, que às 20h30 estava prestes a ter início, a entrevistada considera proveitoso este tipo de encontros, pois servem de base a uma “reflexão mais profunda sobre estas redes de proximidade de combate à pobreza e vermos, ao nível da rede social, o que é que se está a fazer, levarmos a cabo projetos integrados, por forma a não haver sobreposição de ações para que o apoio possa ser mais efetivo e com maior impacto, nas suas diversas dimensões”.

Na sua perspetiva, só uma “resposta integrada” pode ser “efetiva”, o que significa um “trabalho interdisciplinar" com todas as entidades a trabalhar em uníssono, "os próprios CLDS (Contratos Locais de Desenvolvimento Social), o Programa Escolhas, todos os projetos que estão no terreno e que pretendem trabalhar estas famílias nas mais variadas dimensões”. E exemplifica, “pode ser o trabalho à família, o trabalho na escola, há dois anos tivemos o Plano Integrado de Combate ao Insucesso Escolar, uma candidatura a Fundos Comunitários e vamos fazer, agora, uma candidatura ao Plano Integrado de Promoção do Sucesso, neste novo quadro comunitário, que poderá vir aqui dar uma resposta àquilo que é o diagnóstico feito, o que é que está na origem do insucesso escolar dos nossos alunos e trabalharmos com as suas famílias no sentido de tentarmos descobrir a causa ou as causas”.

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“Nunca afastes de alguém pobre o teu olhar”, Papa Francisco na sua mensagem para o Sétimo Dia Mundial dos Pobres, que se celebra hoje, dia 19 de novembro

 

Atualmente, a autarquia suporta uma média de 72 famílias, no que concerne ao Fundo de Apoio ao Arrendamento. O que se traduz num investimento de 100 mil euros anuais, sendo que o apoio varia entre os 50, 75 ou os 100 euros, dependendo do rendimento per capita e da avaliação sócioeconómica da família em causa.

O Fundo de Apoio ao Arrendamento, que surgiu de uma necessidade aquando do Covid, tornou-se, depois, uma medida definitiva porque tínhamos uma grande procura de habitação social por parte de muitas famílias e essa foi uma forma de dar-mos uma resposta, revelando-se, à posteriori, uma medida com grande impacto”, assevera Fernanda Silva, que acredita que o facto da procura por habitação social não ter registado qualquer aumento, denota que “a resposta é positiva e vai de encontro às expetativas das famílias”.

Para além deste apoio ao arrendamento, ao qual qualquer família que cumpra os requisitos se pode candidatar, há um apoio relativo a melhorias habitacionais, quer no meio rural, quer no meio urbano. “É uma medida tomada em articulação com as juntas e uniões de freguesia e só este ano, foram investidos, porque não é uma despesa, é um investimento, 83 mil euros”, divulga a vereadora que analisa o processo de “transferência de competências do Estado para as autarquias” como o acentuar do “sentido de missão” no que concerne ao combate à pobreza e exclusão social.

Também a Cáritas indica que os pedidos de auxílio têm vindo a aumentar substancialmente. “Só nos últimos dois meses, devido, em grande parte, ao aumento do custo de vida, as pessoas não conseguem pagar as despesas e precisam de um suporte. Também há muita procura de roupa de inverno, medicamentos e géneros alimentares. Ajudamos cerca de 60 pessoas por mês, mas esse número varia bastante e, por vezes, são muitas mais”, contabiliza o rosto visível da Cáritas Diocesana de Bragança, Rui Magalhães, em declarações ao Mensageiro de Bragança, enfatizando que a própria Cáritas recebe, hoje, menos donativos do que há uns anos. “Há uma subida generalizada dos preços e as pessoas têm mais dificuldades e retraem-se nas dádivas. Até uma lata de atum é muito mais cara. Também recebemos menos donativos do Banco Alimentar”, constata.

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 “Os pobres são pessoas, têm rosto, uma história, coração e alma”, Papa Francisco

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