A Cadeia de Informação Regional (CIR), que engloba seis rádios locais dos distritos de Bragança e Vila Real, anunciou hoje um boicote às ações de campanha para as eleições europeias.
"Esta tomada de posição prende-se com uma série de entraves que têm vindo a ser colocados às rádios locais, com decisões que podem levar, no limite, ao fechar de portas de várias estações emissoras", explicou à Lusa o porta-voz da CIR.
Fernando Sérgio afirmou que "o Estado discrimina as rádios locais", apontando como exemplo a não atribuição de tempos de antena nestas eleições europeias, já que “só nas autárquicas e nos referendos é que as rádios locais emitem” estes espaços que são pagos.
"Em todas as outras eleições somos excluídas pelo Estado", frisou.
Para os gestores destas estações de rádio, os problemas que afetam o setor são há muito conhecidos pela classe política, mas a situação das rádios de proximidade está numa fase crítica e decisiva.
"Estamos a atravessar um ponto de não retorno, o que poderá significar o fim destas empresas de comunicação social a muito curto prazo", vincou.
A CIR é composta pelas rádios Ansiães (Carrazeda de Ansiães), Brigantia (Bragança), Onda Livre (Macedo de Cavaleiros) e Terra Quente (Mirandela), todas no distrito de Bragança.
Já no distrito de Vila Real figura a Rádio Universidade (Vila Real) e a Rádio Montalegre (Montalegre).
"Não somos de nos queixar. Os problemas existem, vamos tentando resolvê-los dentro de portas", atira o também dirigente da Rádio Terra Quente, uma das mais antigas da região de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Aproveitado o período eleitoral que se atravessa, estas empresas de comunicação social não deixam passar a oportunidade de mostrar o seu desagrado quanto ao tratamento que é dado às pequenas rádios, face aos grandes grupos do ramo existentes no país.
"É natural que a população não se aperceba dos constrangimentos a que somos sujeitos. É até um orgulho para nós conseguirmos levar a cabo esta verdadeira missão: estar a par e dar a conhecer com verdade e rigor aquilo que de relevante se passa, mesmo estando debaixo de fogo em permanência", frisou aquele profissional. Assim, este grupo de rádio está a emitir um comunicado ao auditório onde justifica esta posição hoje tomada.
"Por termos a noção de que somos reconhecidos pelos nossos ouvintes, que o nosso trabalho de verdadeiro serviço público tem um papel fundamental no escrutínio das ações de quem nos governa, de sermos afinal parte do garante da democracia, temos, mais do que o dever, a obrigação de pôr a nossa população a par dos verdadeiros ataques de que somos alvos a vários níveis", enfatizaram os promotores, em nota enviada à Lusa.
De acordo com Fernando Sérgio, o movimento que começou na CIR está a crescer, com outras rádios da região Norte a apoiar a iniciativa ou a tentar fazer "algo do género".
"Ainda há quem pense que as rádios locais são apoiadas ou financiadas pelo Estado, nada de mais errado. As rádios vivem exclusivamente das receitas da publicidade", justificam os promotores do boicote.
Para os responsáveis pela CIR, o Estado exige às rádios locais uma carga burocrática maior do que a qualquer gigante empresarial cotada na bolsa de valores.
As eleições para o Parlamento Europeu realizam-se no dia 26 de maio e a campanha eleitoral arranca no dia 13.