Quatro décadas de Parque Natural de Montesinho celebradas entre críticas à gestão "castradora" do ICNF

Os autarcas de Bragança e Vinhais expressaram o descontentamento das populações do Parque Natural de Montesinho com críticas ao “garrote” feito a uma das áreas protegidas mais antigas do país

As comemorações dos 40 anos começaram na Capital de Distrito esta sexta-feira, 30 de agosto, com a predominância de queixas e críticas elencadas pelos presidentes de câmara dos dois concelhos da área do parque perante os responsáveis do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e da secretária de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, Célia Ramos.

Viver no Parque Natural de Montesinho não é apelativo, ao contrário do que já aconteceu, efeito do garrote do Plano de Ordenamento, que leva ao abandono”, exprimiu o edil brigantino, sublinhando que a média de habitantes em cada uma das 92 aldeias não chega às 100 pessoas.

Hernâni Dias falou das “proibições que ninguém compreende”, acusando o INCF de “viver completamente alheado da realidade do parque”.

Não é compreensível que sejam aplicadas aos agricultores locais multas desproporcionadas dos danos causados quando apenas pretendem limpar as terras”, exemplificou.

O autarca social-democrata de Bragança lembrou, também, que o município já foi multado em 12 mil eurospor intervir num caminho e alvo de um auto de contraordenaçãopor ter aberto uma vala de 30 centímetros de profundidade”.

Se não forem tomadas medidas, o modelo de gestão demasiado opressivo e castrador condenará estes territórios”, considerou.

Hernâni Dias reclamou, ainda, a revisão do Plano de Ordenamento e reiterou a necessidade de criar benefícios para as populações, bem como voltar a nomear um diretor do parque, que não existe desde 2007.

O presidente da Câmara de Bragança começou por lembrar o que de bom foi feito pelo parque nas duas primeiras décadas de existência como os programas e estudos do lobo ibérico e cão de gado transmontano ou a recuperação de património, em que se incluem as casas-abrigo, anteriormente lotadas pela procura turística e agora votadas ao abandono.

Neste momento, o parque é apenas uma figura de ordenamento jurídico que não cumpre os fundamentos que levaram à constituição da área protegida”, declarou.

 

PNM

 

As críticas de Bragança foram reiteradas pelo presidente da Câmara Municipal de Vinhais, o socialista Luís Fernandes, que afirmou que “se há área em que há grande similitude de pensamento (entre os dois municípios) é precisamente esta do Parque Natural de Montesinho”.

Quem mais fez por esta área foram as populações que nela vivem e que são as mais prejudicadas”, sustentou.

O autarca de Vinhais defendeu uma “gestão de proximidade com poder de decisão das autarquias”, propondo que “o Plano de Ornamento não se limite a uma recondução, mas a uma verdadeira alteração”.

A secretária de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza apontou o novo modelo de cogestão adotado por este Governo como o caminho para o futuro e que se materializa em pôr a trabalhar em conjunto para o mesmo fim “a autoridade nacional que é o ICNF, câmaras municipais, juntas de freguesia, organizações não governamentais, universidades e organizações de produtores”.

Célia Ramos alertou, no entanto, que “desenvolver estas áreas protegidas não é da forma igual a outras áreas”, enfatizando que “têm uma identidade própria, requisitos de conservação da natureza, valores ambientais excecionais” que exigem a procura do “melhor modelo”.

Quanto à falta de um diretor no parque há 12 anos, a governante entende que esta figura “não faz sentido tal como existiu no passado” e quem dirige Montesinho é a Direção Regional do Norte do ICNF, sedeada em Vila Real.

 

 

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