Circulavam rumores na internet, através das redes sociais, entre as quais o Facebook e o Instagram, que uma “carrinha branca com quatro ou cinco homens” andaria a abordar jovens do sexo feminino durante a noite e madrugada em Bragança com o objetivo de as sequestrarem e violentarem. Apesar das várias publicações, inclusive de raparigas que afirmaram ter chegado a encontrar-se com o tal grupo de indivíduos, tendo fugido, as mesmas procuravam alertar outras pessoas a terem cuidado e não andarem sozinhas na rua, sobretudo, depois da meia noite como na imagem que hoje partilhamos. Algumas pessoas chegaram mesmo a solicitar à Kapital do NordestE (KNE) que divulgasse estas informações. A que se segue é só um exemplo: “Boa noite, gostava que falassem e partilhassem o que está a acontecer em Bragança. Já não é o primeiro, nem o segundo. Todas as semanas acontece várias vezes. As pessoas têm de estar alerta”, pode ler-se na mensagem. Apesar desta se referir a Bragança, assim como a imagem, foi em Mirandela que este “rumor” ganhou proporções gigantescas a partir de um único caso já registado pela Polícia de Segurança Pública (PSP) entre dois indivíduos e duas estudantes da Escola Superior de Comunicação, Administração e Turismo do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) e consequente disseminação de mensagens nas redes sociais, o que atesta, de forma linear, para o bem e para o mal, o poder da internet e das redes sociais. Tal situação acabaria por obrigar a PSP a tomar medidas concretas.
Após os procedimentos investigativos, esta força de segurança convocou uma conferência de imprensa com o intuito de esclarecer e descansar, não só as famílias das jovens que não sendo da região, estudam no Instituto Politécnico de Bragança, mas, também, a própria população do Nordeste Transmontano. Assim sendo, o primeiro esclarecimento em forma de certeza que a KNE obteve junto da PSP é que nunca ocorreu nenhum sequestro.
“Existe uma situação identificada, notícia de crime, em processamento policial que está associada a um comportamento tido por dois indivíduos e que foi interpretado por duas jovens estudantes do IPB como desviante e lhes causou receio. Existiu, ainda, uma coincidência entre o percurso de diversão noturna destas jovens e a presença dos supostos “agressores” que em tempo algum se lhes dirigiram, mas mantiveram com as mesmas uma atenção que não seria conveniente, nem comum na perspetiva das jovens”, explicou a PSP, na conferência de imprensa convocada para aclarar o sucedido, garantindo que “está a efetuar todas as diligências” para “despistar qualquer hipótese de crime” por parte dos dois homens que, no seu primeiro contacto com as jovens “se faziam transportar numa carrinha”.
A verdade é que os incontáveis posts nas redes sociais, que procuravam ser um aviso, acabariam por semear o pânico entre a comunidade estudantil e os próprios pais das jovens visadas por este alegado grupo, que inundaram o Comando de telefonemas à procura de respostas que os descansassem. Uma noite houve que os pais saíram à rua e conseguiram congestionar o trânsito em Mirandela, numa cidade onde, nem durante o dia, se verifica um engarrafamento.
E tudo começou com um único post como nos conta a PSP. “Existiu uma publicação digital, que teve origem num aluno da ESPROARTE que terá identificado um individuo cujo comportamento lhe pareceu inadequado”, já que o mesmo com o seu telemóvel, “a partir do interior de uma viatura e em direção do recinto da escola” estaria, “presumivelmente”, a “fotografar as jovens”, revela. “A foto difundida digitalmente referenciava ainda uma matrícula”, mas tudo não passou de um mal entendido, já que o proprietário, cidadão português, foi localizado, juntamente com a viatura, e, ao que parece, “naquele momento a viatura era conduzida por outra pessoa”, tendo “a sua conduta sido mal interpretada” pelo aluno, lamentando que “a sua ação fosse associada a qualquer tipo de comportamento desviante”, fundamenta a PSP, que garante não existir “nexo algum de causalidade entre estes factos e ações com a situação das jovens denunciantes”.
O Comando de Bragança aproveita para “sensibilizar as pessoas” a fazerem as suas denúncias na Esquadra e não nas redes sociais, sublinhando que irão “manter uma atenção reforçada”, seguros, no entanto, “que os factos que originaram este alarme social não têm qualquer fundamento”, reitera.