Os produtores de gado bovino de raça mirandesa mostraram-se hoje muito apreensivos em relação ao futuro devido à seca extrema que afeta o território do Planalto Mirandês e ao aumento do custo de produção.
“A seca extrema que afeta esta região está a tornar muito complicado o dia a dia nas explorações pecuárias. O facto de não chover, o que tornou o ano atípico, complica-nos muito a vida. A terra esta seca. As charcas onde bebem os animais estão secas e os ribeiros não têm água. Temos de transportar água em cisternas que vamos buscar ao rio para dar de beber aos animais”, disse à Lusa Vito Fernandes, um produtor do concelho de Miranda do Douro, distrito de Bragança.
O produtor transmontano desta raça autóctone garante nunca ter visto um inverno em que chovesse tão pouco como o deste ano, que deixasse as nascentes e cursos de água tão secos.
“Sentimos que a seca extrema afetou, em muito, os pastos, as colheitas de milhos, produtos hortícolas, como as abóboras e ou outras vegetais e frutos com alimentámos o nosso gado. Vai ser um verão muito difícil de gerir, porque não podemos deixar os animais morrer à fome ou à sede. Temos que ser resilientes”, explicou o produtor pecuário, que tem meia centena de bovinos de raça mirandesa na sua exploração.
Alberto Lopes, um produtor de Prado Gatão, em Miranda do Douro, refere também que não é fácil mudar de estratégia neste território do Planalto Mirandês dada as suas condições climáticas. Ou seja, verões quentes e invernos frios.
“Aqui, quando há seca, é mesmo extrema. O que se torna num problema grave para a agricultura e pecuária, como o que acontece este ano. Neste momento tenho a minha exploração com grande falta de água porque os meus poços estão secos. Tenho um furo que vai desenrascando", referiu.
João Marcos, um produtor do concelho de Mogadouro com cerca de 90 cabeças de gado bovino, disse que a primavera foi uma estação em que não choveu e como consequência não houve forragens suficientes para alimentar os animais.
"As forragens que tínhamos guardadas para o inverno estão agora destinadas ao alimento dos animais. O próximo vai ser muito complicado, onde vamos sentir essa falta de alimentos para os animais que nessa altura estão estabulados”, frisou.
A apreensão dos produtores pecuários, generalizada face ao futuro, foi manifestada durante o concurso de Gado Bovino Mirandês que hoje decorreu em Malhadas, no concelho de Miranda Douro e que juntou meia centena de bovinos desta raça de um solar que abrange Bragança, Miranda do Douro, Mogadouro, Macedo de Cavaleiros, Vinhais e Vimioso.
O número de associados ronda os 300 criadores a nível nacional, com um efetivo com 5.100 fêmeas adultas.
O vice-presidente da câmara de Miranda do Douro, Nuno Rodrigues, indicou que o município já está a abastecer com água, através de cisternas, algumas explorações do concelho e pensa-se em reduzir o preço das águas para consumos dos animais nas explorações agrícolas.
Outras das preocupações tem a ver com o aumento dos preços dos fatores de produção como os combustíveis, rações ou os nitratos.
Os agricultores estão na dúvida se este aumento se deve à guerra na Ucrânia ou à concertação de preços entre fabricantes e distribuidores.
O secretário técnico da Associação Nacional de Criadores de Bovinos de Raça Mirandesa, com sede em Miranda do Douro, Válter Raposo, sempre foi dizendo que estes concursos que não se realizavam há dois anos devido à pandemia, servem para os produtores conviverem e esquecer as agruras do tempo.