A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) indicou hoje que o preço cobrado aos consumidores nos produtos agrícolas pela grande distribuição é “sete vezes mais” do que o que é pago aos agricultores.
Os números foram avançados pelo dirigente Vítor Rodrigues que acompanhou uma comitiva de organizações associadas transmontanas numa reunião com a diretora regional do Norte de Agricultura e Pescas, em Mirandela.
A reunião serviu para expor as preocupações dos agricultores da região, que, segundo disse à Lusa, são também transversais a nível nacional, nomeadamente o aumento generalizado dos preços.
O dirigente garantiu que, “apesar de alguns ligeiros aumentos nos preços pagos ao produtor em vários setores, já há muito que foram comidos pelos brutais aumentos dos custos de fatores de produção”.
“Não chegam nem de perto nem de longe na mesma magnitude com que os custos já aumentaram e daí que acabam quase por nem sequer mitigar a situação em que estão colocados os agricultores”, sustentou.
Da mesma forma, afiançou, os agricultores não beneficiam do aumento que o consumidor está a pagar, havendo “situações em que o preço de determinados produtos que o consumidor paga de hortícolas e etc, é, por vezes, sete vezes aquilo que chega ao agricultor”.
“Há uma ordem de magnitude da margem que fica na distribuição, e depois no retalho, que é enorme, portanto daquilo que o consumidor paga, às vezes, é uma questão de dez por cento ou menos que chega às mãos dos agricultores”, concretizou.
Para alterar esta situação, a CNA “tem uma proposta concreta que está a ser implementada aqui ao lado em Espanha, que é a criação de legislação que proíba a venda com perdas ao longo de todos os elos da cadeia”.
Outras medidas que a confederação tem vindo a defender é que os organismos públicos façam as compras no fornecimento local e o estímulo aos circuitos curtos de comercialização, “como forma de contornar a ditadura da grande distribuição”.
O dirigente salientou que “está em causa a viabilidade de um grande número de explorações, da soberania alimentar e da produção nacional” e considerou que as medidas de crise que têm sido anunciadas pelo Governo “ficam aquém daquilo que é necessário”.
A reunião com a diretora regional do Norte focou também “questões mais particulares” da região transmontana como a compensação aos produtores de gado pelas perdas devidas a ataques de javalis e de lobos.
Vítor Rodrigues disse que encontraram “sintonia e compreensão” da diretora regional, concretamente “sobre a maneira como o ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e Florestas) atua quando se trata dos prejuízos provocados por ataques de lobos, em que arranja sempre maneira de não pagar aos agricultores”.
“Isto significa que os agricultores estão na prática a subsidiar a manutenção desta espécie”, vincou.
Numa região de pequenos e médios agricultores, outra das questões abordadas foi a reivindicação de eliminação do escalonamento previsto para a pequena agricultura, “tornando possível que todos os pequenos agricultores neste regime recebam 1.250 euros".
As áreas de pastoreio em baldios, os contratos de comodato e a Casa do Douro foram mais alguns dos temas na reunião, assim como a exclusão da apicultura da mais recente medida de apoio anunciada pelo Governo para o setor.
“Isso na região de Trás-os-Montes é uma questão bastante importante e, sobretudo, num ano em que os apicultores vão ter uma produção baixa”, considerou.