Um “grande” concerto de homenagem a Adriano Correia de Oliveira está a ser preparado pelo cantor Paulo Bragança para 16 de outubro, 40 anos após a morte do cantautor de intervenção, que se junta aos discos “Adriano80”, editado em junho, e “Adriano40”, a editar.
Para Paulo Bragança homenagear Adriano Correia de Oliveira “é imperativo”. “O facto de ter morrido tão cedo terá contribuído também [para o esquecimento], mas não se justifica”.
“Parece que é algo de propósito. Penso que algo maléfico. Penso que é algo de cruel, dado também todo o seu historial com o PCP. Mas é injusto porque Adriano Correia de Oliveira é, sem dúvida, um marco importantíssimo da música portuguesa, de sempre”, disse Paulo Bragança em entrevista à agência Lusa.
Visivelmente feliz por ter a banda inteira no Festival Músicas do Mundo de Sines (FMM), onde atuou na segunda-feira, uma vez que “nem sempre é possível ter cinco músicos em palco”, o cantor garante que, “ao vivo, é sempre mais dinâmico e orgânico”.
No presente, a gravação digital levanta-lhe “algumas questões”. “Sim, é um grande som, mas tenho de arranjar uma forma de equilibrar o analógico e o digital e fazer discos assim”, confessa. O fadista prefere uma “boa” gravação de um concerto “ao vivo”, do que um álbum de estúdio.
No dia 16 de outubro de 2022, 40 anos após o dia da morte de Adriano Correia de Oliveira, sairá “Adriano40”. Sobre o concerto ainda não há um local “fechado”, mas a ideia é fazer um “grande concerto”. É forma de Paulo Bragança agradecer e dizer “olha toma, Adriano, é para ti”.
“E gostaria de o gravar ao vivo. Gravar os dois discos num só. Vamos ver”, afirma. Uma homenagem ao Adriano faz hoje “mais sentido” do que faria logo a seguir ao 25 de Abril ou nos anos oitenta.
Quando se fala em renovação do fado, é inevitável falar de Paulo Bragança. A sua aparição na música portuguesa, no início dos anos de 1990, foi um sopro de modernidade e sensibilidade, desconfortável para alguns, estimulante para muitos.
"Amai", o seu segundo álbum, de 1994, que viria a ser integrado no catálogo da Luaka Bop de David Byrne, é um marco na história da música portuguesa. Artista no sentido mais autêntico (e romântico) da palavra, passou por uma fase de desencanto e ausência do país. Em 2017, regressou em definitivo a Portugal para uma segunda fase da sua carreira.
Utilizando o tempo verbal presente, Paulo Bragança refere-se ao músico João Aguardela (Sitiados, Linha da Frente, Megafone e A Naifa), que morreu em 2009, como a única pessoa que tem como amigo na música. E di-lo porque ainda hoje o considera e só terá percebido isso depois de algum tempo.
“O João acompanhou-me a um festival na Bretanha {França] e durante o ensaio de som diz-me que não o considero um cantor. Arrepiei-me a dizer isto. Querido João”, diz emocionado. Paulo Bragança partilhou a mesma 'manager', Laura Diogo (ex-Doce), com os Sitiados.
A música “Soldado”, dos Sitiados, integra “Cativo” (EP de 2018) e faz parte do alinhamento do concerto no FMM.
“Todas e quaisquer homenagens que se façam ao João Aguardela serão sempre poucas. Dentro de uma grande memória dos últimos trinta anos. o João merece todas as homenagens, tem temas tão bonitos, como 'As Sete Baladas'. Abraço-te, João”, remata Paulo Bragança.
O FMM decorre no concelho de Sines até 30 de julho, depois de uma pausa de dois anos, com uma programação que inclui 47 concertos de artistas de quatro continentes.
Ava Rocha, Bia Ferreira, Letrux (Brasil), Ana Tijoux (Chile), Queen Ifrica (Jamaica), Omara Portuondo (Cuba), Dominique Fils-Aimé (Quebeque), Dulce Pontes e Sara Correia (Portugal) são algumas das artistas que se encontram no cartaz do 22.º FMM, adiado para este ano devido à pandemia da covid-19.
Seun Kuti & Egypt 80, Etuk Ubong (Nigéria), James BKS (Camarões), Re:Imaginar Monte Cara (Cabo Verde), Club Makumba, Fado Bicha, Pedro Mafama (Portugal), Albert Pla e Angélica Salvi (Espanha) estão também entre os artistas confirmados este ano.
À semelhança de edições anteriores, a programação reparte-se entre a aldeia de Porto Covo, onde decorreu de sexta-feira a domingo, e a cidade de Sines, de 25 a 30 de julho.
Além dos concertos, a programação do festival inclui uma série de iniciativas paralelas, como exposições, ‘workshops’, visitas guiadas, animação de rua, uma feira do livro e do disco e debates.
O programa completo do 22.º FMM pode ser consultado no 'site' oficial do festival, em www.fmmsines.pt.
FOTOGRAFIAS IN NOTÍCIA: Mário Pires