INTRO:
Depois de mais de uma década ausente do País, o fadista Paulo Bragança regressou para um concerto no Teatro Municipal à terra que o viu crescer, depois do último álbum "Cativo" ter entrado no Top Nacional na primeira semana de estreia.
GRANDE ENTREVISTA:
Kapital do NordestE (KNE): Estiveste ausente mais de uma década, foi uma espécie de exílio ou de retiro espiritual?
Paulo Bragança (PB): Esse período foi um período acima de tudo de reflexão, completamente self-inflicted (autoinfligido), ninguém me mandou embora, eu é que quis ir embora, estive muito tempo ausente porque as circunstâncias assim o permitiram, para poder ir fundo dentro de mim sem medo. Aliás, quando te encontras sozinho não podes fazer muito, isto é, eu não tinha distrações, não tinha muitas coisas com que me divertir e, então, tinha de me divertir comigo, acontecesse como acontecesse, ia ao fundo da questão tentando que ela ficasse esclarecida ou pelo menos mais avançada porque resolvida nunca fica. Resolvida só a morte!
KNE: Mas qual foi o propósito desse período?
PB: Esse período serviu, acima de tudo, para me refazer enquanto ser humano, para pensar naquilo que queria fazer da minha vida, ate que ponto tudo isto vale a pena e para quê! E, sinceramente, acho que nunca disse isto a ninguém, nem nestas tantas entrevistas que tenho dado, mas às vezes pergunto-me para quê?
BMF: Não estarás a ser um bocado fatalista?
PB: Bruno, isto é tudo uma irrealidade dentro daquilo que é real, aquilo que é realmente verdade. Uma pessoa tem de ter os pés muito bem assentes no terra para saber se está a fazer as coisas de uma forma que é autêntica, de uma forma que é verdadeira, porque às vezes é tao fácil falar para o lado de lá, para o lado do deslumbramento, para o lado do “eu sou assim”… Para já eu nunca fui assim, muito menos agora. Por exemplo, o meu último álbum, passado uma semana, entrou diretamente para o 14º lugar do Top Nacional. E isso não é mérito só meu, percebes? É o mérito de toda uma equipa, desde os músicos aos técnicos, desde a editora até ao rapaz que nos traz qualquer coisa de comer durante os concertos. A verdade é que há toda uma dinâmica que é preciso estabelecer. Eu, simplesmente, sou quem está a frente e, obviamente, tenho mais responsabilidades, pois se der bronca o culpado sou eu.
KNE: Estavas farto de algumas situações vividas em Portugal ou este desvio de 180 graus que implicou uma total mudança de vida com a tua ida para o estrangeiro foi tão, somente, uma viagem de descoberta interior?
PB: Eu nunca tive chatices com ninguém, com os media nunca, mas no meio musical, às vezes, criam-se certas situações. No entanto, a mim, diretamente, ninguém me disse nada. Agora, obviamente, as pessoas não são parvas e percebem. Mas a verdade é que não estava zangado com ninguém, apenas comigo, saturado também, eram muitas viagens… Durante ano e meio, só vim duas vezes a Lisboa. Demorei uma hora e meia para montar uma casa, só tinha caixotes e um colchão no quarto, perto do aeroporto, pois não parava, andava sempre de um lado para o outro. E isso, também, é extremamente cansativo.
Depois, houve outra situação… Uma morte pelo meio que me deitou muito abaixo, mas não quero falar sobre isso porque acima de tudo tenho respeito pela sua família. Mas era alguém que me era muito próximo e por terem sido umas circunstâncias muito trágicas, marcou-me tanto que, mesmo hoje, não há um dia que eu não pense nisso. Essa morte matou-me, mas não quero falar mais sobre isso.
KNE: Porquê Dublin? Porquê a capital da Irlanda?
PB: Eu não fui para lá diretamente. Mas é melhor começar pelo princípio. Houve uma situação dentro da minha própria equipa, pessoas que não foram honestas comigo, que me tiraram tudo que havia para tirar. Deixei-lhes tudo e tiraram-me tudo. Não sou santo nenhum, mas eles também não o são. Houve duas ou três situações, entre as mortes e, depois, surgiu a falta de confiança, as pessoas começam a afastar-se e, logo de seguida, vieram os comentários, o diz que disse. Após tudo isto estive envolto num grande dilema, sem ter culpas diretas no cartório, fiquei sem absolutamente ninguém. Só para que compreendas, a minha casa era sempre rodeada de gente, sempre cheia, dormiam, bebiam e, inclusive, dormiam lá, mas eu cheguei a um ponto em que um dia me fechei num quarto na minha própria casa. Uma amiga minha tinha chave, entrou e disse “isto é inacreditável” e era. Ali estava eu, parecia um cão triste, sozinho, magoado e escondido. Agora fico em Portugal, vou à Irlanda na mesma de vez em quando, mas aquele país deu-me muito e eu só posso estar-lhe muito grato.
KNE: E foi toda essa conjugação de fatores que te levou a partir?
PB: Toda esta situação magoou-me tanto que decidi partir para Madrid. Seguiu-se a cidade londrina, onde estive algum tempo. Mas, apesar de ser uma cidade fantástica, aquilo chateava-me. Londres é gigantesca e já tinha passado lá grande parte da minha vida. Até porque era a base de todas as minhas viagens. A Lisboa só vinha mesmo quando havia essa necessidade ou quando era obrigado. Mas eu não estava bem, nem em Londres, nem na Lua. Fui para a Roménia, Bucareste e Constance. Aí houve uma situação peculiar. Sempre fui apaixonado pela música cigana, mas aquela gente não te deixa entrar assim sem mais nem menos, corriam-te logo à pedrada, se não tivesses indicações de um músico conhecido deles, corriam-te mesmo, pois eram comunidades muito fechadas. Aquilo na Irlanda, chamam-lhe o Chelta, ali era difícil… Um dia, um deles vira-se para mim de mau e foi quando eu comecei a cantar uma música romena, mas mal porque eu nem sabia o tema em condições. Expliquei-me e a verdade é que, a partir daí, ficaram meus amigos.
Entretanto, andei com eles uns meses, mas aquilo não era vida. Adoro a Roménia, mas é um país caótico. Ainda, agora, tive um convite do diretor do instituto cultural romeno que foi ter comigo à FNAC. Adoro a Roménia, só que é um país muito corrupto, mas também a corrupção atualmente existe em quase todo o lado. Atualmente, cada vez se percebe menos, cada vez se vê menos e cada vez se ouve menos… E quando alguém está num papel como o meu tem de dizer as coisas com cuidado para não ser mal interpretado.
KNE: Pode-se dizer que chegaste à Irlanda um homem desfeito e saíste da Irlanda um homem revigorado?
PB: Exatamente, Lisboa como que me fez homem, desfez-me e, agora, volto feito.
“E mesmo se fosse sapateiro ou se tivesse a varrer ruas e limpar casas de banho, acredita que a casa de banho que eu limpasse poder-se-ia comer na sanita. Isso é garantido! Há que ter brilho naquilo que fazemos, seja o que for”
KNE: Nesse sentido e pegando nas tuas palavras, “cada vez se percebe menos, cada vez se vê menos e cada vez se ouve menos”, consideras que, frequentemente, o excesso de informação acaba por ser prejudicial?
PB: Completamente! Tive uma “batalha” em que eu, simplesmente, não queria capa ou queria uma capa preta sem cara, sem nome ou o nome só na lombada, mas não queria imagens. Nem imaginas a guerra que foi. Sinceramente, estou farto de ser bombardeado com imagens de “compre”, “leve”, “experimente” ou “ligue já”. Nunca tivemos tanto e nunca se soube tão pouco e de tanto ver estamos todos cegos. Quando tive um vídeo mais calmo, as pessoas começaram logo a dizer que não porque hoje todos ou quase todos querem coisas de dois segundos. E eu não sou assim! Hoje é, “vi e já está visto”, “vou e já fui” e é uma velocidade que não é real, impossível de acompanhar. Já as redes sociais, tenho de levar com elas porque é um instrumento de trabalho. De vez em quando ia à internet e passava três horas a ver “NADA”, é um despudor absoluto.
KNE: Há muita falta de conteúdo, portanto? É isso que estás a tentar dizer?
PB: Claro que sim! Aliás, não há conteúdo nenhum! O conteúdo é: quanto menos melhor. Um iogurte vende um par de calças e vice-versa. Preocupa-me, de facto, mas não posso mudar as coisas sozinho, tem de haver, também, um alerta das pessoas. Eu e um grupo de amigos tínhamos um jantar em Dublin todas as quintas-feiras e fizemos aquilo durante, pelo menos, meia dúzia de anos. No último ano desse convívio, eu já todo chateado disse: “não volto mais” porque estava tudo ao telemóvel, constantemente, a mandar e a receber mensagens. Para isso, fico em casa e deixei de ir aos jantares. Era um grupo das 7 à meia-noite, homens para socializar na pura, íamos às cabines telefónicas e não funcionavam, então íamos ao café buscar moedas, mas as coisas faziam-se. Há que haver um equilíbrio! Tanto assim que, os restaurantes em Dublin, onde trabalhei e conheci muita gente, começaram com animação e a pediram às pessoas à entrada para desligarem os telemóveis.
KNE: Na tua opinião, hoje em dia, estando nós cada vez mais “conectados”, seja através do telemóvel, do pc ou do tablet, na realidade há uma falta de comunicação crescente entre as pessoas?
PB: Claro que sim! Estamos cada vez mais desligados. Vivemos num tumulto, há que dobrar o cabo das tormentas para chegar ao pacífico, a um mar de tranquilidade. Andamos todos absurdos, nós somos todos absurdos, o ser humano tornou-se um absurdo de si próprio.
KNE: Vivemos num mundo tipo Matrix onde reina a ilusão?
PB: Totalmente! Já dizia Andy Warhol que, no futuro, toda a gente iria ter 15 minutos de fama. Pronto, é legítimo! Mas o que anda por aí são os designados “wannabe`s”, gente que quer ser famosa sem ter nenhum talento, sem trabalho, que quer fama por fama… Eu, por exemplo, se fosse um cozinheiro a minha comida teria que ser a melhor do mundo e como cantor tenho de dar o meu melhor às pessoas. E mesmo se fosse sapateiro ou se tivesse a varrer ruas e limpar casas de banho, acredita que a casa de banho que eu limpasse poder-se-ia comer na sanita. Isso é garantido! Há que ter brilho naquilo que fazemos, seja o que for.
A minha posição não é nada privilegiada, em dinheiro já não é, só se for pelo facto de ser conhecido. A vantagem disto tudo é que quando estou num palco, sejas gordo, magro, alto, baixo, rico ou pobre, toda a gente naquele espaço, naquele concerto, naquela celebração, toda a gente está ao mesmo nível, estamos todos em comunhão, é um princípio que está subjacente a uma filosofia dita cristã ou, mesmo, muçulmana, mas, no fim de contas e, principalmente, humana.
Hoje, o mundo em que vivemos é o do “Me, myself and I”. Esses são os tempos em que vivemos. Onde cada um se preocupa só consigo próprio, em vez de se preocupar com o outro.
KNE: Será que o mundo anda como que adormecido com aquilo que lhe “dão a comer”?
PB: Agora, basicamente, sim. Quando fui ao Japão e a Changai, há muito tempo, já naquela altura fiquei parvo com a maneira como aquela gente vive, completamente centrada, a viver em três metros quadrados. E aquele bocadinho de espaço é o seu mundo.
No Japão, por exemplo, tens agências para alugar amigos, os “Rent a Friend”. Ou seja, se não quiseres ir ao cinema sozinho, podes sempre alugar um amigo, escolheres as caraterísticas do amigo, amiga ou até podes optar pela companhia de um robô. Nem sei catalogar estas situações. Só sei que devíamos aliviar a barra. No crivo do tempo, passam todas as areias, umas ficam à tona, enquanto outras perdem-se nas milhentas e milhentas… O tempo, esse, é maior que todos nós. Nesse crivo do tempo, tudo passa, tudo se vê.
Tivemos a moda do “Cubo de Rubik”, do “tamagotchi”, mas eram coisas diferentes, pois além da diversão, existia um desafio inerente. Agora, fazem-se as coisas só quando está implícita uma autopromoção, dão-se coisas gratuitamente, a troco de nada. Só para te dar um exemplo, chamam-me para ir a um concerto, não oferecem quase nada, mas se não for eu vai outro até a ganhar nada mesmo. Eu não critico festivais, só me questiono até que ponto tudo aquilo que se passa é legítimo ou, até que ponto as pessoas fazem aquilo que querem. Não estarão a ser um bocado manipuladas? E não deveria ser esse, se calhar, o papel da religião católica, o papel de “religar”, colocar as pessoas em contacto. Deveria haver uma chamada de atenção para todas estas situações. A realidade atual pode virar-se contra nós e transformar-se em algo muito perigoso! Sem dúvida que as pessoas estão a perder o norte.
Por outro lado, por vezes, penso que nós só temos aquilo que merecemos. Por vezes penso que o ser humano é a maior besta à face da terra e, por vezes, desejo que nunca encontre outro ser vivo neste universo porque, de certeza, que o iremos aniquilar. Infelizmente, somos maus e cruéis por natureza.
KNE: És pessimista por natureza ou haverá uma réstia de esperança no final?
PB: Não é ser pessimista, não vejo é que haja esperança e, tão pouco, não me parece que isto vá melhorar. Por acaso, eu leio muito sobre essa situação e mesmo os grandes pensadores não trazem nada de novo ao que foi dito no passado. É urgente que as pessoas tenham consciência de facto e pensem, por exemplo, “para que vou comprar isto se não preciso?”.
KNE: Falas do materialismo? A necessidade de ter, comprar, só para mostrar ao outro?
PB: Sim e no nosso país consegue ser ainda pior. A inveja existe no ser humano. Mas, em Portugal, há uma mesquinhice que diz: “eu não tenho mas tu também não hás-de ter “. É má, não há sentido de comunidade. Felizmente que não é regra geral.
KNE: Cada um olha para o seu umbigo e pouco mais. É isso?
PB: Ora bem! Comparando com a Irlanda, que é uma realidade que eu tão bem conheço, acredita que se não vires um amigo durante um ou dois dias na rua, imediatamente as pessoas vão procurar-te e tentar saber o que é que se passa. Isso é certinho! Obviamente que não o fazem porque fica bem ou mal, mas sim porque aos irlandeses lhes é inerente e natural. Claro que, depois, é praticamente impossível encontrarem-se pessoas mortas em casa. como acontece aqui em Portugal. E às vezes passados meses.
KNE: Como acontece, por exemplo, em Portugal, onde muitas vezes são encontradas pessoas mortas um mês ou dois depois de falecerem, sem que ninguém tenha procurado ou se preocupado com elas.
PB: Pode acontecer, mas há um espírito de comunidade maior, as pessoas estão muito mais unidas. A mim o que mais me enfurece é que tenho a certeza que certos políticos tenham essa consciência, mas depois ninguém faz nada. E depois as pessoas manifestam-se contra, mas pergunto: “quem os mete lá? Certo é que há uma relação de cumplicidade entre os que estão no poder e os que entram nos corredores do poder. Os políticos, a grande maioria não tem vocação, e saem dali para exercer o gargó de CEO e ganharem milhões. Não digo que sejamos todos iguais, aos políticos alguém os coloca no poder, mas a relação de cumplicidade é vergonhosa. Agora, só lá estão porque alguém votou neles e esse alguém é o povo. A carreira política devia ser um apostolado, um serviço, ponto final, parágrafo. Alguém que vá a política tem de ir com o pensamento de tentar tornar a vida das pessoas um bocadinho melhor.
“Hoje, o mundo em que vivemos é o do “Me, myself and I”. Esses são os tempos em que vivemos. Onde cada um se preocupa só consigo próprio, em vez de se preocupar com o outro”
KNE: Mudando, agora, o Norte da conversa e focando-nos na tua carreira, descreve-nos este teu quinto e último álbum: Cativo.
PB: Já ouve muitos “Best Of`s” e outras tantas ontologias, mas tirando isso, sim, este é o meu quinto álbum. Este é o sumo e o sumario do verão de 2017. Cheguei em maio a Portugal com um tema no bolso, que era com os moonspell e fiz a cena com eles. Mas eu já estava a gravar desde 2012 com o Carlos Maria Trindade. Cada vez que vinha a Portugal, depois de seis anos ausente, comecei a vir de vez de enquanto, uma vez ou outra, quando me chamavam para algum concerto ou íamos para o Cais de Maria, um monte no Alentejo, onde existia um estúdio e ficávamos lá. E eu sempre lhe disse: “vamos fazer isto sem pressões de editores, nem nada, quando dermos o álbum por encerrado damos, se for daqui a um, cinco ou dez anos que seja”. Entretanto, trouxe música da Irlanda, levei músicos lá e fizemos muita coisa. O álbum está quase pronto, faltam uns caprichos que quero pôr e quero limá-lo mais.
E o sumo do sumo de 2017 porquê? Depois de ter passado pelo Museu de Faro, depois do “Bons Sons”, “Oito muralhas”, “Festa do Avante”, “MeshFest” e o “Caixa Alfama”, constatei que as pessoas não se esquecem e que são capazes de me dizer coisas muito bonitas. Por vezes, as pessoas dizem-me coisas de uma forma que eu fico sem palavras. De tal forma que eu até fico confrangido. Uma vez, quando comecei a tocar o primeiro tema uma senhora começou a chorar e a chorar contagiou a sala toda. Noutra ocasião, uma senhora das Astúrias veio de propósito ver-me atuar e esteve a sessão toda a chorar.
Mas, depois, penso como é que as pessoas dizem essas coisas e depois atuam de uma forma completamente diferente, distinta. Algo se passa na cabeça delas! E a máquina é tão forte, não estou com teorias da conspiração que eu não acredito, mas são manipuladas. Isto não é ser tétrico, nem estou a anunciar que vou morrer, mas simplesmente tenho consciência da fragilidade das coisas. Tudo é um ápice, tudo acaba e de repente já não se existe.
“…somos simplesmente mais um ser como qualquer ser vivo à face da terra, que se desfaz na imensidão das coisas por outra forma qualquer, mas sem consciência de um qualquer passado”
KNE: É esse, para Paulo Bragança, o significado de “Cativo”? Cativo da fragilidade da vida humana da nossa existência?
PB: Exatamente, da fragilidade da vida humana da nossa existência. Uma ignorância permanente, apesar de todos os avanços tecnológicos. Há aqui uma linha ténue que não se consegue ultrapassar mesmo indo aos microcosmos, mesmo indo à ciência quântica, ainda não há respostas satisfatórias e penso que nunca haverá. Estamos aqui nesta ignorância, o microcosmos é um macro por si só. O que eu estou a tentar dizer é a pergunta que todos fazemos… Se calhar, nem aí a vamos encontrar. Por isso é que continuam os estudos e sempre gostei e, ainda, gosto de filosofia.
KNE: Num tom, agora, ainda mais existencialista, conotado, também, com o próprio Fado, enquanto expressão musical, acreditas que possa existir algo depois da morte?
PB: Não. Penso que, depois da morte, o que há é a consciência que ficará de nós nos outros e que se poderá perpetuar, a alma. Não sei! Acreditar piamente como aquelas pessoas que acreditam na ressurreição, deixo tudo em aberto, mas confesso que gostaria de acreditar que sim. No entanto, acho que somos simplesmente mais um ser como qualquer ser vivo à face da terra, que se desfaz na imensidão das coisas por outra forma qualquer, mas sem consciência de um qualquer passado. A filosofia deu-me muito e continua a dar-me, a filosofia permite todas as perguntas, nada é ridículo perguntar na filosofia.
KNE: Depois de tantos anos ausente, da música, do meio artístico, chegares a Portugal, lançares um álbum e semana e meia depois estar no Top Nacional, consideras que os músicos são como o vinho do Porto? Quanto mais velhos, melhor?
PB: Nem sei que te diga! Fico contente, obviamente, mas lancei logo um comunicado com a equipa a dizer que o mérito é de todos por igual porque toda a gente trabalhou para isso. Eu só sou uma peça, eu sou, digamos, o que estou nos cornos do touro, mas também se cair caio sozinho. Os sucessos partilham-se e os fracassos, esses guardas para ti, pois ninguém tos quer.
No outro dia na FNAC, peguei num pano qualquer e disse: isto é uma bandeira, se ninguém lhe pegar cai, é a lei da gravidade. E é como eu, eu sou a bandeira, mas também tem de haver o poste e o estandarte se não ela cai, e quem é o poste e o estandarte, é esta gente toda, são os técnicos, são os músicos, a editora, as pessoas que mandam os concertos, eu sou a engrenagem da peça central que é insubstituível, mas não é um trabalho só meu porque eu sozinho não o fazia assim, podia fazê-lo, mas não era assim. Agora, claro que estou contente pelo 14º lugar.
As pessoas dizem me as coisas de uma forma que eu fico sem palavras que eu ate fico confrangido, quando comecei a tocar o primeiro tema uma senhora começou a chorar e a chorar contagiou a sala toda, outra senhora das Astúrias veio de propósito esteve a sessão toda a chorar.
KNE: E porque a entrevista já vai longa... Última pergunta... Novo álbum, Exílio, para quando?
PB: Este novo álbum sairá no final de abril de 2019 e tanto pode ter 14 como 20 temas porque há muita matéria, há muita canção, muito tema, muito fado, daí que não sei, até pode ser duplo. Quanto a datas, não estou nada preocupado, o que sei é que está quase pronto, tive de parar que estou no meio da promoção, em estúdio, tinha apontado para Junho mas não dá, pois o tempo foge e tenho que promover o Cativo também.