Mascararte traz consigo o universo feminino a um mundo que era tipicamente masculino

A Mascararte, que promete tomar de assalto a cidade Capital de Distrito, de 23 a 25 de novembro, reconhece a importância do feminino, dando o destaque, mais que merecido, ao papel da mulher nesta que é uma tradição secular.

Subordinada, assim, ao tema “Personagens Femininas das Mascaradas do Distrito de Bragança e da Província de Zamora”, a Bienal da Máscara enaltecerá a mulher, conhecida por “Filandorra, Madama, Velha ou Beilha, Sécia ou Mascarinha”, colocando em evidência o seu papel, mais ou menos visível, nas mascaradas, mas sempre preponderante, do passado ao presente. Quem o disse foi o presidente da Academia Ibérica da Máscara, após a apresentação da bienal, que teve lugar na manhã da passada segunda-feira, dia 13 de novembro, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Bragança.

Hoje em dia, a igualdade de género é um tema que está na ordem do dia e bem porque, de facto, não há razão nenhuma para que estas festividades, estes rituais, sejam exclusivos dos homens, sendo certo que o era até há 15, 20 anos”, manifesta António Tiza, para quem, é só “natural”, que a “tradição evolua”.

O autor transmontano de vários livros ligados às máscaras garante existirem “diferentes níveis de participação”. Assim, antes, o que acontecia é que “elas, as mulheres, as mães, as irmãs, participavam de outra maneira, por exemplo, na confeção dos trajes, mas não os vestiam, isso não. Agora, fazem, provavelmente, as duas coisas, produzem os fatos e se calhar as máscaras, porque não? E vestem-nos e assumem esse papel em pé de igualdade com os rapazes”, explica o professor aposentado do ensino básico, secundário e superior, natural de Varge e licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto.

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Nesta 11ª edição, para além do foco na valorização do papel da mulher, será, ainda, sublinhado o “empreendedorismo cultural e criativo, realçando o papel dos artesãos e de projetos diferenciadores e aglutinadores, bem como refletir sobre os desafios colocados às associações de caretos e comunidades locais na preservação e continuidade dos rituais”, revela a organização, da responsabilidade da autarquia brigantina, que alude ao facto de que será possível adquirir os trabalhos de 16 conhecidos artesãos que estarão em exposição no Centro Cultural Municipal Adriano Moreira, mais precisamente no Espaço da Máscara | Mostra de Artesãos.

Para além das habituais exposições, conferências e conversas à volta de diversas temáticas, haverá duas novidades, as Oficinas de Banda Desenhada: “Riscos, Ritos e Mascarados” e “Mascarados” e o Acordar Bragança com a participação de grupos de gaiteiros. No entanto, o momento alto continuará a ser o desfile pelas ruas de Bragança, no último dia, seguido da Queima do Mascareto, no Largo do Castelo de Bragança.

Um espetáculo, a não perder, que incluirá a performance “A deusa da roca e do fuso”, supervisionado por Luís Canotilho, presente na apresentação da Mascararte e que, no final, levantou um pouco do véu daquilo que está para vir.

Este ano, a figura é uma filandorra gigante, cujo rosto é coberto por uma renda, e os caretos vão descobrir que o que está por detrás é, na realidade, aquela figura mítica que existe sempre neste conflito entre o sagrado e o profano nestas festas de inverno que é o Diabo e volta outra vez a vir o S. Estevão em defesa e proteção dos Caretos de Salsas”, conta o professor coordenador do Instituto Politécnico de Bragança, que faz questão de realçar que esta “é apenas uma performance artística e nada mais que isso”, que reflete uma simbologia mainstream, na qual “o bem vence sempre o mal”.

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Já o edil brigantino, em entrevista à Comunicação Social, exalta a circunstância desta ser, “sem dúvida, uma grande homenagem que prestamos às mulheres”. "Esta é uma iniciativa de âmbito cultural que o município tem vindo a organizar ao longo do tempo e, em cada edição, tentamos sempre inovar. Este ano, decidimos incluir a questão da participação feminina e não deixa de ser relevante numa altura em que trabalhamos muito esta componente da igualdade, da própria capacidade das mulheres poderem assumir papéis diferentes daqueles que assumiam antigamente”, fundamenta Hernâni Dias que, sobre as duas décadas de Mascararte, faz um “balanço é muito positivo, naquilo que tem a ver com a promoção, mas, sobretudo, com a preservação dos valores culturais do nosso território, nesta componente de maior ancestralidade, que é conhecida”.

Contudo, o autarca nota que, durante estes 20 anos de bienal, “houve uma proliferação enorme de eventos similares que, em determinados momentos, pode, eventualmente, até parecer algo exagerado”, mencionando, inclusive, uma “massificação”, já que estas iniciativas são “replicadas em quase todos os locais”, de forma e conteúdo semelhantes, quase que se ofuscando mutuamente. E para o comprovar, basta “olhar para a programação cultural dos vários municípios”, reconhece.

É por esse motivo que Hernâni Dias proclama uma “reflexão” de todas as partes envolvidas neste tipo de festividades, que caminhe na direção de uma “articulação” tendo em vista o bem comum, “para que não haja atropelos de ninguém” e “para que as tradições sejam valorizadas, sejam preservadas, sem que isso implique uma centena de eventos, praticamente todos iguais, a acontecerem no mesmo espaço”.

A perspetiva do presidente passa mesmo por encetar diálogo com as várias autarquias com o intuito de organizar um evento maior que representasse toda a região. “É importante que haja eventos que sejam organizados com escala para que todos beneficiemos daquilo que é organizado em conjunto”, finaliza Hernâni Dias, que crê na importância da comunhão de esforços para fomentar o desenvolvimento do Nordeste Transmontano enquanto um todo, insinuando como Aristóteles, há cerca de 2350 anos, que “o todo é sempre maior que a simples soma das suas partes”.

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