O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, enalteceu hoje o político transmontano Camilo Mendonça, que há 60 anos fez o que parecia impossível na região, ficando conhecido como o pai da agricultura transmontana.
O chefe de Estado presidiu hoje à cerimónia evocativa do centenário do nascimento do Engenheiro Camilo Mendonça, que na década de 1960 projetou o muito que é hoje a lavoura da região, que o homenageia até 23 de julho com várias sessões sobre o tema.
Marcelo é afilhado de batismo do homenageado e passou hoje, em vários concelhos do distrito de Bragança, por alguns locais alusivos à obra construída de raiz, desde o cooperativismo agrícola a barragens para regadio e à aldeia onde nasceu Camilo Mendonça, Vilarelhos, no concelho de Alfândega da Fé.
“Viu aquilo que havia de ser o futuro 60 anos antes, para muitos foi considerado como um visionário, completamente sem sentido, um sonhador utópico naquele sentido negativo do termo”, evocou o Presidente da República.
Para o chefe de Estado, o engenheiro agrónomo “percebeu que era preciso mudar o que havia de exclusão, de afastamento, no fundo da situação dramática em Trás-os-Montes, no chamado Nordeste Transmontano”.
Mais do que isso, acrescentou, “decidiu meter mãos à obra e mostrou que não tinha só ideias, fazia”.
E fez o Complexo Agro Industrial do Cachão, que recebia, transformava e comercializava a produção agrícola da região, “fez cooperativa quando era difícil apoiar o movimento cooperativo, até pela natureza do regime ditatorial em que se vivia, reuniu produtores, encontrou formas de distribuição no tempo em que não havia vias de comunicações, ligou a agricultura à agroindústria, lançou produtos em tempo recorde”, recordou.
“Montou, portanto, um projeto que na altura parecia impossível, inviável, sem pés para andar, mas que hoje sabemos que, se pudesse ter ido mais longe, teria antecipado muita coisa no Nordeste Transmontano e teria poupado muito atraso, muito pobreza e muita desigualdade”, considerou.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, “são precisos em todo o mundo mais Camilos de Mendonça, em Portugal também sempre, porque a inventiva, a capacidade de sonhar e de sonhar e de fazer, faz a diferença em relação à construção do futuro dos países”.
Camilo Mendonça morreu em 1984, com 62 anos, e a sua obra permanece, nomeadamente nas muitas barragens para regadio do Nordeste Transmontano, algumas das quais só concluídas há poucos anos.
Apesar de frequentar os corredores do poder, Camilo Mendonça “nunca esqueceu as raízes”, foi um dos grandes transmontanos que tinha influência em Lisboa, como salientou Marcelo.
“Várias vezes o apelidavam de adiantado mental”, porque era avançado para a sua época, recordou o Presidente da República.
Na aldeia onde nasceu Camilo Mendonça, já são poucos o que privaram com ele, mas até os mais novos, como Rafael Pacheco, de 30 anos, têm “uma boa ideia dele” e reconhecem a obra que deixou.
Entre essa obra está o bairro social da aldeia, construído na década de 1960, e a avenida, que ganhou o nome de Camilo Mendonça, mais recentemente.
Rafael recorda o homem com as histórias do avô e garante que “pelo que dizem os mais antigos, era muito sociável e lembrava-se da terra dele”.
“As pessoas sentem que ele fez alguma coisa pela terra”, disse à Lusa.
A terra não fez tudo o que ele pretendia fazer, nomeadamente a fabrica de lavagem de lãs na aldeia, para a qual foi construída a barragem do Salgueiro, que acabou destinada ao regadio do fértil Vale da Vilariça.
Vilarelhos tem cerca de 200 habitantes e o jovem considera que “a aldeia é rica”, falta apenas gente,
De resto, garantiu “é tudo muito acessível” porque rápido chegam aos principais centros da região, já que fica numa zona central do Nordeste Transmontano.
Camilo Mendonça dizia que Vilarelhos estava no coração do Nordeste Transmontano e ele ficou no coração das gentes locais.