O evento King of Portugal (KOP), que iria decorrer entre 4 e 8 de setembro, foi cancelado à última hora quando já estavam em Vimioso 65 das 67 equipas inscritas. Muitas vindas do estrangeiro e de países tão longínquos como, por exemplo, Israel, defraudando, assim, as expetativas, não só dos participantes como, também, da própria autarquia e, sobretudo, da organização.
E isto porque foi diferido um despacho governativo assinado esta terça-feira que determinou a passagem de estado de alerta especial nível vermelho do dispositivo especial de combate a incêndios rurais até às 23:59 de domingo para 14 distritos do Centro e Norte do país, entre os quais, se inclui Bragança.
As altas temperaturas esperadas durante a semana e o consequente agravamento do risco de incêndios tornaram proibido o acesso, circulação e permanência no interior dos espaços florestais, previamente definidos nos planos municipais de defesa da floresta contra Incêndios, bem como nos caminhos florestais e caminhos rurais, impossibilitando, assim, a concretização do KOP.
Em entrevista à Kapital do NordestE (KNE), o diretor de um dos três setores do KOP garante que tudo foi feito para tentar inverter a situação, minimizar o prejuízo das equipas e para que elas percebessem que isto que aconteceu nada teve a ver com a organização.
“Quando já a grande maioria dos inscritos se encontravam em Vimioso fomos surpreendidos com a notícia de que tinha sido emitido um decreto lei por parte do Ministério da Administração Interna a declarar alerta vermelho para o distrito de Bragança, proibindo assim a circulação em caminhos rurais e florestais até ao dia 8 de setembro”, refere Miguel Batouxas, sublinhando que “90 por cento do percurso utiliza esse tipo de caminhos”.
De acordo com o entrevistado, a organização ainda contactou o Governo, mas “apesar da garantia dada pelo município, bombeiros e GNR de que todas as medidas estavam tomadas, que o terreno estava com as condições ideais, não foi aberta qualquer exceção”. E esta situação do terreno é, particularmente, incompreensível até porque, segundo o próprio, nesta edição, o investimento em limpeza do terreno foi duplicado, falando mesmo em “prepotência” de quem toma este tipo de decisões, pois “não foram consideradas as consequências deste tipo de decreto”.
Apesar de tudo, o, também, responsável por servir de elo de ligação entre equipas e organização, assevera que “todas as hipóteses foram estudadas, todas as ideias foram avaliadas e colocadas em cima da mesa. Nada mais do que aquilo que a organização deu às equipas foi possível de proporcionar. Ninguém estará mais desolado com o sucedido e terá maior perda do que a organização, depois de um ano de muito trabalho".
No final, as palavras na ordem do dia eram tristeza e desilusão. “Cada vez que penso nas equipas que fizeram viagens enormes, investimentos brutais, só penso em formas de lhes mostrar que tudo aquilo que estava ao nosso alcance foi feito. E concluo que a única forma de o fazer é voltarmos mais fortes do que nunca, para organizar aquela que alguns dizem ser a melhor prova da Europa”, assume.
E, apesar de ter sido feito o possível e o impossível, mesmo assim, Miguel Batouxas, em nome da organização aproveita para pedir duas coisas: “sinceras desculpas”, apesar de culpa não ter tido nenhuma, e pede, sobretudo, “que não deixem de acreditar em nós”. E no pior momento do Nortex4, o Clube promete “fazer regressar o mais rapidamente possível a melhor prova de sempre”.
De referir que, nesta edição de 2019, a competição que é considerada por muitos como “uma das melhores da Europa” registou o maior número de equipas inscritas de sempre, 67 oriundas de 22 países de quatro continentes, sendo esperados mais de seis mil espetadores.
A KNE entrevistou, ainda, um elemento de uma equipa brigantina participante. ““Respeitamos a decisão tomada pela organização, claro que ficamos descontentes, tristes, pois queríamos muito participar, mas ficará para uma próxima”, refere Joana Gonçalves, da equipa Tábô Team, garantindo que a “organização fez tudo por tudo para satisfazer as equipas”.
Com um orçamento de, sensivelmente, 80 mil euros, suportados pelo município, Nortex4 e patrocinadores, o KOP seria para Vimioso sinónimo de lucro, sobretudo, para os agentes económicos locais com principal incidência na restauração, cafés, comércios e postos de combustível.
Em declarações à Agência Lusa, o autarca local criticou o despacho conjunto do Ministério da Administração Interna e do Ministério da Agricultura, que motivou o cancelamento desta prova. “É completamente absurdo! Este é um concelho com uma economia débil que tem uma prova internacional com valias económicas e o Governo, numa atitude mais papista que o papa, desconsidera todos os esforços, não atende a especificidades e prejudica um concelho e a imagem do próprio país”, argumenta Jorge Fidalgo, não deixando de “lamentar e expressar o sentimento de revolta” pela publicação do despacho.
“A prova King of Portugal está devidamente licenciada e todo o percurso foi inspecionado pela GNR e Bombeiros de Vimioso. Está prevista e assegurada a presença da GNR, Bombeiros e Segurança privada durante toda a prova. A prova realiza-se há sete anos, sempre em condições piores do que as atuais em termos de segurança”, explica, reiterando que “o grande investimento, ano após ano, é justamente na segurança em função das exigências cada vez mais apertadas das forças de segurança e bombeiros”, pelo que “não se compreende tal medida”.
Para Jorge Fidalgo, “com este despacho, o que o Governo determina é que as pessoas do mundo rural fiquem prisioneiras nas suas próprias casas”, sendo que, “no limite, não podem ir à horta, apanhar amêndoa, vindimar”, o que é “incompreensível”. “Assim, proibindo tudo, é fácil resolver os problemas”, conclui.
Certo é que a organização não poderá manter a prova nesta altura de verão, já que a mesma situação poderia acontecer numa outra edição, o que acabaria de vez com a credibilidade conquistada a pulso ao longo dos últimos anos pelo Clube Nortex4.