Festas dos Caretos de Torre de Dona Chama prestes a tornarem-se património nacional

O Nordeste Transmontano está prestes a ter mais uma festa dos tradicionais mascarados no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, com a inscrição das Festas dos Caretos, dos Rapazes e de Santo Estevão de Torre de Dona Chama.

As festividades, que ocorrem no Natal nesta vila do concelho de Mirandela, fazem parte das chamadas festas de inverno do Nordeste Transmontano, também conhecidas como Festas dos Caretos, dos Rapazes e de Santo Estêvão, que se prolongam do natal ao carnaval.

As de Torre de Dona Chama serão as segundas do distrito de Bragança a constar no inventário nacional, depois dos Caretos de Podence (Macedo de Cavaleiros), que já alcançaram também o estatuto de Património Mundial da Humanidade.

O pedido do registo no inventário nacional das festas de Torre de Dona Chama foi feito pela Dona Flâmula, a associação local para a defesa do património de Torre de Dona Chama, e o presidente, António Reimão, acredita que “dentro de um ou dois meses” o processo estará concluído.

A Direção-geral do Património Cultural tem o processo em consulta pública, até ao início de agosto, o que corresponde à última etapa, depois da qual decidirá sobre a inscrição destas festas no inventário nacional.

A responsável pela documentação da candidatura foi a técnica Patrícia Cordeiro, que conduziu também o processo do Entrudo Chocalheiro dos Caretos de Podence, em Macedo de Cavaleiros.

Durante três anos, a técnica observou os rituais que se repetem anualmente a 25 e 26 de dezembro e conclui que, “de todo o conjunto de festas de inverno em Trás-os-Montes, as da Torre de Dona Chama são talvez a festa mais completa, que reúne mais elementos, que hão de derivar de outras festividades no tempo”.

São quase como que colagens de vários momentos e a verdade é que encontramos ali momentos, temos o sagrado e o profano, as festas dos rapazes e dos caretos, mas temos também uma corrida da mourisca, um momento de teatro popular da reconquista cristã, e isso é muito incomum nestas festas transmontanas”, descreveu à Lusa.

Além de Festas dos Caretos, dos Rapazes e Santo Estevão de Torre de Dona Chama, estas são também conhecidas como “Ciganada”, com homens a vestirem-se de mulheres e vice-versa com o rosto tapado por um pano das tradicionais rendas de croché.

“Burricada” é outras das denominações devido à tradição de roubar burros, com o significado de despojar os mouros de meio de transporte para fugirem e que está relacionado com a “Mourisca” ou “Correr/Corrida (d)a Mourisca”, a encenação da reconquista cristã.

O presidente da Associação Dona Flâmula explicou à Lusa que esta encenação teatral é uma especificidade destas festas, onde não falta a fogueira comunitária de Natal, a missa e o deitar os jogos à praça, em que um grupo munido de funis a fazer de altifalantes vai de casa em casa e obriga o dono daquela a quem atribuir uma alcunha a apresentar-se em praça pública a condizer com a alcunha.

António Reimão salientou à Lusa que estas festas são das mais antigas, com séculos, e que se realizam de forma continuada, com a exceção dos dois anos de pandemia, na região.

Uma comissão de festas e a população da vila, com pouco mais de mil habitantes, garantem que se repete de ano para ano a tradição que já “foi estudada por muito gente, incluindo uma austríaca que pegou nela do ponto de vista musical”.

O processo para a inscrição no inventário nacional teve o apoio financeiro de um programa da EDP e da Câmara de Mirandela para os cerca de 20 mil euros gastos, segundo o presidente da Associação.

As festas de Torre de Dona Chama faziam parte de uma anunciada candidatura ibérica com 51 mascaradas dos dois lados da fronteira, que está a ser conduzida desde 2017 pelo Agrupamento Europeu Zasnet, mas cuja ideia tem 15 anos.

O presidente da associação disse ter sido apenas contactado para disponibilizar “uma carta de conforto” e, como localmente já tinham um projeto, submeteram uma candidatura própria.

A candidatura do Zasnet estava pouco bem formalizada, tanto assim que o pedido foi anterior ao nosso, ainda não avançou e, dentro de um mês ou dois, estará feita a inscrição da nossa festa”, afirmou.

Depois de confirmado o registo no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, a associação pensará se segue os passos dos Caretos de Podence até à UNESCO, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.

Se for possível a inscrição na UNESCO, é, mas não é uma ideia que nos persegue”, afirmou.

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