O COVID-19 e as suas consequências continuam a fazer-se sentir em todo o território continental e ilhas, principalmente, desde a última semana. No entanto e, apesar do sufocante alarme social e do já verificável risco de morte inerente ao próprio vírus, ainda é notoriamente visível um sentimento de despreocupação por parte de uma franja significativa dos nossos concidadãos face a esta nova ameaça que virou do avesso a sua vida e transformou por completo o seu quotidiano.
Mas estarão os brigantinos preparados e a tomar as devidas precauções?
O Município de Bragança foi dos primeiros a expressar a sua preocupação, tendo tomado as devidas precauções no imediato. Através de um comunicado, a autarquia informou a população das medidas concretas que decidiu adotar, no sentido de evitar a disseminação do vírus como o cancelamento de todas as Feiras semanais e temáticas, bem como dos passeios pedestres e as atividades em todos os equipamentos culturais. A utilização das piscinas e equipamentos desportivos municipais está suspensa.
Já os Serviços Municipais mantêm-se em funcionamento, mas apenas deverão ser procurados em situações urgentes, estando disponíveis pelo contacto telefónico (273 304 200) ou email (gap1@cm-braganca.pt). Outros eventos em bares, como concertos, foram igualmente cancelados devido ao COVID-19.
Algumas lojas fecharam portas como, por exemplo, as lojas dos chineses na Rua Almirante Reis. No entanto, grande parte dos estabelecimentos comerciais continuava aberto ao público na passada sexta-feira, sendo que, entretanto e ao que a Kapital do NordestE (KNE) conseguiu apurar durante o fim de semana, muitos deles optaram por encerrar portas já a partir de amanhã, segunda-feira.
Lojas dos chineses encerradas com avisos na porta.
Contudo, as precauções devem ter tomadas individualmente, o que pouco tem se verificado, de acordo com algumas das opiniões partilhadas pelos entrevistados.
“Vi muitas pessoas no supermercado a tapar a cara com um echarpe, mas, por exemplo, a tocar, desnecessariamente, nos caixotes de mercadorias. É preocupante a população estar a ter cuidados com umas coisas e a descurar outras”, relata Henrique Araújo, acrescentando que a população em Bragança e em Portugal inteiro “está a encarar o estado de alerta como umas férias adicionais, sem muita preocupação, vivendo o seu dia-a-dia normalmente, mas com alguns cuidados adicionais face à pandemia”. De acordo com o aluno do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), “como Bragança é uma cidade relativamente pequena, a probabilidade de haver surto é menor, mas isto não quer dizer que não se deva respeitar as normas e as boas práticas de higiene”. O jovem elogia, ainda, a Câmara Municipal de Bragança pela decisão de cancelar eventos e atividades, bem como encerrar infraestruturas onde, potencialmente, se possam reunir grandes grupos de pessoas, afirmando que se trata de "um bom caminho para não haver contaminação aqui”.
Também Iliana Barreira, tem estado atenta ao evoluir da situação, visto que a pandemia que se vive, atualmente, “é um problema não só para uma pessoa, mas para todos" e, por isso, "devemos estar conscientes e tomar as devidas precauções”. Na opinião da aluna de Mestrado do IPB, o estado de espírito das pessoas face ao Covid-19 “é de medo e de um certo descontrolo" que se reflete, por exemplo, na "ida desenfreada de pessoas aos hipermercados". A jovem advoga que é, somente, "uma questão de bom-senso", até porque "não somos os únicos a viver, existem mais pessoas e há que pensar nelas". Não pretendendo "desvalorizar a gravidade da situação", sustenta Iliana Barreira, "esta doença vem demonstrar o comportamento das pessoas, a falta de empatia e de solidariedade, o egoísmo e o consumismo desenfreado”.
Ao ser questionada sobre o quão preparada está a comunidade em que se insere, a estudante, simplesmente, responde "que não está", pois “é muito difícil consciencializar as pessoas, fazê-las mudar os seus hábitos, as suas rotinas, e acho que as pessoas têm tendência a desvalorizar a situação”, justifica. Porém, a entrevistada garante que tem tomado as devidas precauções, nomeadamente, evitar “estar em aglomerados de pessoas e não cumprimento ninguém”, apesar de já ter visto, refere, pessoas a não respeitar as orientações da Organização Mundial de Saúde, independentemente da Europa ser, neste momento, considerada o epicentro desta pandemia global.
Prateleiras vazias no Lidl de Bragança na passada sexta-feira
Como em outras regiões do país, Bragança não ficou indiferente à corrida aos supermercados para abastecer a despensa. À medida que os casos positivos de COVID-19 vão aumentando, são cada vez mais os portugueses que correm, literalmente, através dos corredores das grandes superfícies para se abastecerem. Na passada sexta-feira, eram diversas as prateleiras, secções e arcas congeladoras que se encontravam vazias no Lidl de Bragança, deixando pouco ou nada para que as pessoas pudessem fazer as suas compras normalmente. A maioria dos enlatados estava esgotada, deixando, apenas, poucas caixas das marcas mais caras. Muitas prateleiras da secção de legumes encontravam-se vazias e foi notória, também, a falta de gel desinfetante e álcool no supermercado. Apesar do cenário caótico, os funcionários desta cadeia de supermercados garantiram que o stock seria reposto. Nas farmácias, verifica-se, exatamente, o mesmo problema, no que diz respeito à falta de desinfetantes. Também as luvas e as máscaras já se encontram esgotadas há vários dias, esperando as farmácias e os seus clientes por uma reposição de stock que, para desespero de alguns, tarda em chegar.
Apesar de muitas pessoas se apressarem para os supermercados quase em marcha de emergência, ainda é possível encontrar alguns habitantes de Bragança despreocupados, jovens na sua maioria, quer nas ruas, que nos cafés, apesar de serem cada vez menos os estabelecimentos que se encontram abertos como constatou a KNE ao longo do fim de semana, mesmo depois das recomendações do Ministério da Saúde e do Ministério da Administração Interna.
De sublinhar que decorre, agora, uma iniciativa de um grupo de cidadãos preocupados que se disponibiliza a ir ao supermercado e à farmácia pelos idosos e doentes crónicos, para que estes não sejam obrigados a sair de casa, não se submetendo, assim, a um desnecessário risco de contágio. A página de Facebook Covid-19: Bragança solidária pretende, não só manter atualizados todos os brigantinos acerca da pandemia, mas também promover a entreajuda, fazendo chegar aos mais idosos e isolados medicamentos e bens de primeira necessidade.
De acordo com declarações prestadas, hoje, pelo Primeiro Ministro, António Costa, este será "um momento duradouro", durante o qual o número de infetados tenderá a subir até, pelo menos, ao final do mês de abril.
Dos 245 casos já confirmados, 18 encontram-se nos cuidados intensivos, na sua maioria idosos e com patologias associadas, e 8 estão em estado crítico, divulgou este domingo a Ministra da Saúde.
INFORMAÇÕES ÚTEIS
O que é o COVID-19?
Os coronavírus são uma família de vírus que podem causa infeções, normalmente do foro respiratório, podendo ser confundidos com a gripe ou evoluirem para pneumonia. Este foi identificado pela primeira vez em dezembro do ano passado, na China. Por nunca antes ter sido identificado em seres humanos, a sua fonte de infeção é desconhecida e ainda alvo de investigação. Este vírus é transmitido por contato próximo com pessoas infetadas, superfícies ou objetos contaminados. As gotículas são libertadas pelo nariz ou boca quando tossimos ou espirramos, e podem atingir diretamente a boca, nariz e olhos das outras pessoas. Estas também podem depositar-se nos objetos ou superfícies e, ao tocar nestes objetos e depois tocar na boca, nariz ou olhos, a infeção pode ser transmitida.
Sintomas
A maioria dos infetados apresenta sintomas – ligeiros a moderados - de infeção respiratória aguda, tais como febre, tosse e falta de ar. Nos casos mais graves, pode causa pneumonia grave com insuficiência respiratória aguda, falência renal e de outros órgãos, e eventual morte. A maior parte dos casos recupera e não tem sequelas.
E como se proteger?
Tapando o nariz e a boca ao tossir ou espirrar, nunca com as mãos, mas com um lenço de papel ou com o antebraço, deitando, em seguida, o lenço de papel no lixo. Lavar frequentemente as mãos, durante 20 segundos, com água e sabão ou com uma solução à base de álcool. Deve evitar, também, tocar na cara com as mãos, evitar partilhar objetos pessoais ou comida em que tenha tocado e evitar o contato próximo com pessoas com infeção respiratória.
TEXTO E FOTOGRAFIAS: Patrícia Botelho / BMF