A centenária estação ferroviária de Mirandela, abandonada há décadas, pode finalmente ser reabilitada depois de vários imbróglios legais terem sido ultrapassados, o que vai permitir à Câmara realizar obras no património ferroviário da cidade transmontano.
A autarquia e a empresa Infraestruturas de Portugal (IP) oficializaram esta sexta-feira, dia 6 de setembro, o contrato de comodato que garante o usufruto de edifícios e terrenos ao município por um período de 50 anos com o compromisso de realizar obra no prazo de 36 meses (três anos).
Trata-se de “um passo muito importante” para a presidente da Câmara de Mirandela, Júlia Rodrigues, que vai finalmente desbloquear um impasse de décadas retratado na degradação da estação que deu nome à alheira de Mirandela, de onde eram despachadas as encomendas para o litoral.
Desde a desativação da linha do Tua entre Bragança e Mirandela, no início da década de 1990 que todo o património ferroviário da cidade está abandonado, enquanto ao lado foram construídas novas infraestruturas para o Metropolitano de Superfície, entretanto, também desativado como toda a linha do Tua.
A ligação à linha do Douro perdeu-se, definitivamente, com a construção da barragem de Foz Tua, com a albufeira a submergir 17 quilómetros da ferrovia para dar lugar a barcos e a um comboio turístico em menos de 30 quilómetros de linha, que será reativada entre a Brunheda e Mirandela.
A futura viagem de comboio de turistas e população terminará na estação de Mirandela onde a presidente da Câmara pretende, no processo de reabilitação, instalar um posto de turismo com o arranjo da zona envolvente.
As obras vão começar pela requalificação da central de camionagem, para a qual já há projeto, como explicou a autarca.
O município vai agora negociar com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN) a relocação de fundos comunitários a que Mirandela tem direito para poder canalizar as verbas de rubricas menos prioritárias para a intervenção principal na estação.
Serão necessários mais de dois milhões de euros, um valor que só será apurado depois de feito o projeto que foi promessa eleitoral de Júlia Rodrigues há dois anos, com a pretensão de ali instalar uma casa das artes.
A autarca remeteu “para breve notícias e pormenores do enquadramento deste projeto”, que espera conseguir executar “num espaço mais curto de tempo” que os 36 meses estipulados.
O vice-presidente da IP, Carlos Fernandes, representou a empresa na assinatura do contrato e explicou que os ativos em causa são “um conjunto de terrenos e de edifícios que, desde a altura da cisão entre a Refer e a CP foram estando numa situação um bocadinho indefinida”.
O contrato celebrado esta sexta com Mirandela “permite regularizar o usufruto destes ativos por parte da Câmara Municipal e permite agora fazer um conjunto de investimentos que permitem dotar estes ativos com condições para serem usados de novo pelas populações”.
A presidente da Câmara aproveitou a ocasião para entregar em mão ao representante da IP o relatório da inspeção que o município realizou às pontes do concelho.
Júlia Rodrigues observou que “nada de muito relevante” foi encontrado nas infraestruturas inspecionadas, “mas existem pequenos apontamentos técnicos” a necessitar de acompanhamento.
O vice-presidente da IP respondeu que a empresa “tem hoje uma equipa com capacidade” para responder a estas necessidades que “tem apoiado os municípios e vai apoiar este relatório naquilo que for necessário em termos de competências”.
FOTOGRAFIA: David Correia