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“É um roubo” acusam manifestantes em Bragança que se insurgem contra aumento do IUC

O Clube de Automóveis Clássicos de Vila Flor (CACVF), em parceria com o Motocruzeiro de Bragança, associou-se ao Movimento STOP IUC e promoveu um protesto em Bragança, inserido na manifestação nacional que levou para a rua milhares em todo o país, contra o aumento do Imposto Único de Circulação (IUC), que irá afetar todos os proprietários de veículos com matrícula anterior a 2007.

Foram dezenas as pessoas de ambos os clubes e outras como Carlos Pinto, em representação do Movimento, que às 14 horas, de domingo, dia 5 de novembro, vindas de todo o distrito, se concentraram no Castelo de Bragança. Pelas 15 horas, ao protesto que saiu em marcha lenta, juntaram-se outros condutores, também eles em modo de contra-ofensiva, que iam buzinando, em sinal claro de descontentamento, pelas principais artérias da cidade, contra a intenção do Governo em implementar a proposta no Orçamento de Estado.

Ainda no castelo, a Kapital do NordestE (KNE) falou com um dos acérrimos defensores da não implementação da medida, que personifica o Movimento e que é, ele próprio, proprietário de um jipe anterior a 2007. “Isto não é um aumento. Isto é um roubo deste Governo! Eu, por exemplo, tenho aquele jipe que está ali, é de 1999, aquele jipe é velho, tem 24 anos, paga 70,50 euros, que até é muito, de IUC até é muito, vai passar para 776,50 euros, vai subir 1001,5 por cento. Acha que isto é subida? Isto é um roubo! É um roubo”, exclama, revoltado, Carlos Pinto, que compara esta situação com o Governo “ir ao banco e roubar-me o dinheiro todo”.

Aproveitando, a título de exemplo, o veículo do brigantino, o jipe, de 1999 e, por isso, com 24 anos que, atualmente, de IUC, paga 70,50 euros, seria alvo de um aumento na ordem dos mil por cento, registando, após os vários aumentos consecutivos de 25 euros anuais, o montante global de 776,56 euros, a pagar todos os anos, após atingir esse valor.    

Na saga que é a sua e de tantos outros portugueses, o entrevistado defende, ainda, os agricultores e todos aqueles, a maioria, que têm “reformas de 300 e 400 euros”. “Por acaso não sou, mas imagine que era agricultor reformado de uma aldeia, como é que eu ia pagar um IUC de quase mil euros? Tinha de vender o jipe! Mas não é só vender, hoje o jipe vale menos 40 ou 50 por cento do que valia há dois meses, o Governo já conseguiu desvalorizar todos os carros, mesmo antes de aprovada a lei”, declarou, inconformado, perguntando, logo de seguida, “e agora quem é que vai comprar um carro, de 1980 a 2007, usado, quando daqui a dois ou três meses vale metade?”.

O manifestante coloca, inclusive, sobre a mesa, um cenário hipotético: “uma pessoa ganha 300 euros de reforma, como é que vai comprar um carro daqueles que eles querem, dessa merda elétrica, merda não é asneira, que diz-se até nos teatros, como é que vai comprar a merda de um elétrico de 30 mil euros? Vai ficar a dever ao banco até aos 200 ou 300 anos de idade?”.

E foi quando, numa espécie de prenúncio do que aí viria, Carlos Pinto disse: “espero bem que esta luta contra o IUC seja o enterro do Governo”, nunca desconfiando, nem ele, nem ninguém, que só dois dias após as suas declarações, o Governo cairia e António Costa apresentaria a sua demissão.

CAS

A KNE falou, ainda, com o presidente da entidade que tornou possível o protesto no distrito mais a Nordeste de Portugal, o Clube de Automóveis Clássicos de Vila Flor (CACVF). “Queremos que isto do IUC não vá para a frente porque, para já, os carros anteriores a 2007, pagaram o IA (Imposto Automóvel) todo no ato da compra e, por isso, não têm de ser sujeitos a nova tributação porque os outros, a partir de 2007, já não pagaram. Deixou de ser IA e passou a ser ISV (Imposto Sobre Veículos) e, a partir daí, passaram a pagar o imposto durante a vida do carro. Daí haver a tal diferença de imposto de uns para os outros”, sustenta José Pires que, vigorosamente, se insurge contra aquilo que ele descreve como sendo uma “dupla tributação”.

O vila-florense, que ao volante do seu “clássicoRenault 5 fez 85 quilómetros durante mais de uma hora, apesar do "preço incomportável" dos combustíveis, para mostrar a sua indignação contra o Governo que, ontem, viria a “cair” de forma súbita e inesperada com alguns dos seus elementos-chave a serem investigados pela justiça, menciona outra facto que diz não fazer "qualquer sentido". “Eles, agora, vêm com a história que isto é um imposto sobre sobre a poluição, o que não faz qualquer sentido, já que um carro com 40 anos faz 100, 200 ou 300 quilómetros por ano. Portanto, não vai poluir assim tanto”, defende o orgulhoso proprietário de quatro veículos com mais de 16 anos, que não entende, por mais que tente, a posição tomada pelos governantes portugueses.

José Pires recorda um outro argumento, “anterior” ao do ambiente, dado pelo Governo, que tinha a ver com o desconto de 30 por cento (%) em seis ex-SCUT do Interior e Algarve, o que teria um impacto anual de 72,4 milhões de euros para as contas do Estado, sendo este suportado pelo aumento do IUC aplicado a viaturas anteriores a 2007.Mais de 90 por cento destes carros não vão sequer para as auto-estradas! Isto é uma estupidez”, realça, acreditando que o Governo quer é “arranjar dinheiro de qualquer maneira”.

Por outro lado, “eles deviam explicar muito bem para onde é que vai este dinheiro porque se é um imposto sobre a poluição, onde é que ele vai ser gasto? Devia ser gasto na despoluição e não entrar no Orçamento de Estado na generalidade e ser gasto conforme querem e lhe apetece”, reclama o rosto visível do Clube de Automóveis Clássicos de Vila Flor, que chama as coisas pelos nomes ao adjetivar como “injusta” a intenção do Governo, já que se trata de penalizar e “prejudicar a classe mais pobre”.

Jose

 

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