As cerca de três dezenas de deslocados de guerra, provenientes de vários pontos da Ucrânia, que chegaram a Mogadouro em abril, começam a integrar-se na sociedade local e alguns pensam em aprender português e ficar pela região.
Os deslocados, que na esmagadora maioria são mulheres e crianças, e cujas idades se situam entre os 2 e os 50 anos, já se entrosaram no dia-a-dia desta vila do distrito de Bragança, onde o principal entrave é mesmo língua.
Cinco já se integraram no mercado de trabalho, sendo a autarquia o principal empregador, e há também 15 crianças e adolescentes a frequentar o agrupamento de escolas de Mogadouro.
Saíram da Polónia a 21 de abril num novo voo humanitário de apoio à Ucrânia da responsabilidade da Associação Ukrainin Refugees (UAPT) e chegaram a Mogadouro no dia seguinte, ficando alojados no centro de acolhimento local certificado pelo Alto Comissariado para as Migrações (ACM).
As cerca de três dezenas de pessoas ficaram em Mogadouro para fugirem a uma guerra que parece não ter fim à vista. As saudades da Ucrânia são muitas, mas a vontade férrea em começar uma nova vida poderá estar no mesmo patamar de objetivos futuros.
Foi no centro de acolhimento que a Lusa, com ajuda de um tradutor, falou com Galyna, Margarita e Maryna.
Galyna Fadieva, mãe de dois rapazes, disse que tudo depende do estado em que ficar a Ucrânia após a guerra.
“Gostaria de regressar à Ucrânia, imediatamente, após fim da guerra, mas se o meu país ficar destruído e não tiver condições de vida para mim e para os meus filhos, obviamente que não vou levar os meus filhos para um país destruído e ficarei por cá”, vincou.
Já Margarita Ivanova adiantou que o seu principal objetivo é aprender português para uma melhor integração na sociedade portuguesa.
“Quero aprender a língua portuguesa e neste momento ainda não sei o que fazer de futuro. Mas ficar em Portugal poderá ser uma das opções”, frisou a jovem ucraniana.
Por seu lado, Maryna Hulevata vincou que gostaria de ficar em Portugal e só a língua poderá ser um entrave.
“Preciso de uma melhor integração ao nível da língua portuguesa”, observou.
Apesar de algumas indecisões e incertezas, garantem que foram bem acolhidos e que Mogadouro é uma vila simpática onde a guerra está muito longe, ficando as saudades dos amigos e da família.
Do lado da autarquia mogadourense que acolheu estes deslocados de guerra, a garantia “é que tudo está a ser feito para que haja uma boa integração destas pessoas”.
“A integração tem corrido muito bem. É evidente que há um esforço muito grande por parte da autarquia para que estas pessoas possam aquilo que a guerra os privou no seu país de origem”, enfatizou António Pimentel.
António Pimentel destacou que há já cinco pessoas que estão a prestar serviços à própria a autarquia e assinalou como poderá “haver pessoas que são deslocadas [de guerra] que podem vir a constituir família em Mogadouro, sendo percetível algumas aproximações entre residentes locais e ucranianos”.
O autarca referiu ainda que a vinda destes deslocados de guerra “está a gerar impacto na economia local”.
No que respeita à integração dos mais jovens em ambiente escolar, tudo foi feito para que tentar que o ensino seja o mais eficaz possível.
A diretora do agrupamento de escolas de Mogadouro contou que os alunos vindos da Ucrânia chegaram já no 3.º período do ano letivo e, neste momento, estão todos em conformidade com a legislação para frequentar o ensino em Portugal.
“A escola contratou um professor para lecionar a disciplina de língua portuguesa não materna para começarem a aprender português. A nível informático, foram preparados computadores com teclado em ucraniano”, indicou Mafalda Rocha.
De acordo com a responsável, há pelo menos um aluno que terminou o secundário com as respetivas credenciais do seu país natal e que pretende seguir os seus estudos no Instituto Politécnico de Bragança (IPB).
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas – mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,6 milhões para os países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).