Descoberta vala comum com até 70 esqueletos de há 258 anos resultantes da Guerra do Mirandum

Uma equipa de arqueólogos acredita ter colocado a descoberto os primeiros esqueletos das vítimas resultantes da explosão do paiol do castelo de Miranda do Douro, que ocorreu há 258 anos durante a Guerra do Mirandum.

Esta descoberta, tida pelos arqueólogos como relevante para melhor se compreender a história da cidade de Miranda do Douro, no distrito de Bragança, decorreu após sondagens arqueológicas na antiga Rua do Castelo, um espaço que se encontra em obras de requalificação.

"No acompanhamento arqueológico da execução da obra, e com a abertura de uma vala para implantação de um muro, foram exumados vestígios osteológicos humanos, o que obrigou a uma paragem e a consequente realização de uma sondagem arqueológica de avaliação da área”, disse à Lusa a arqueóloga municipal Mónica Salgado.

Segundo a responsável que acompanha o processo, foi possível constatar que, em algumas valas, teriam sido depositados corpos humanos. "O número pode chegar às 70 pessoas enterradas naquela área", revela, sublinhando que "os materiais arqueológicos exumados estabelecem uma cronologia moderna, séculos XVII e XVIII. A deposição dos enterramentos demonstra uma certa desordem, por assim dizer, do tipo vala comum".

Mónica Salgado adiantou que, numa vala, foram exumados dois indivíduos de sexo masculino e duas crianças.

"Uma das crianças estava colocada de ventre para baixo e com um braço apoiado no crânio de um dos indivíduos, denunciando uma falta de cuidado e a rapidez com que se pretendia enterrar os mortos", concretizou.

Neste local, é realçada "a não existência de um espaço de culto" como uma capela ou um cemitério.

"Este espaço de enterramento trata-se somente de um espaço aberto e utilizado como área de cultivo, analisando incluso plantas modernas (séculos XVIII). Podemos aferir que se tratam de valas decorrentes do rebentamento do paiol a 08 de maio de 1762, há 258 anos", vincou a técnica.

Por seu lado, o arqueólogo José António Pereira, responsável pelas sondagens arqueológicas no terreno, refere que há o conhecimento histórico da Guerra do Mirandum, mas como pouco vestígios.

"Tenho o conhecimento histórico do evento, mas com poucos vestígios histórico, a não a destruição do castelo e não havia a notícia de enterramentos. Estas descobertas estão repletas de significado histórico", vincou.

Segundo uma investigação da arqueóloga Mónica Salgado e de outros historiadores, a Guerra do Mirandum decorreu da participação de Portugal na Guerra dos Sete Anos, que opôs Portugal e Espanha.

"A disputa em Miranda do Douro ficou conhecida como a Guerra do Mirandum, na qual a 08 de maio de 1762, o exército do Marquês de Sárria invade a cidade, devido a um acidente ou outra ação, na qual o paiol do exército português explode, originando a morte de cerca de 400 pessoas”, conta a arqueóloga.

"Derrotados com este acontecimento, a cidade de Miranda do Douro rende-se facilitando a entrada do exército franco-espanhol", enfatizou.

Segundo o presidente da Câmara de Miranda do Douro, Artur Nunes, a vala foi selada e no futuro proceder-se-á a novas sondagens para melhor se compreender o valor deste espaço, "numa perspetiva antropológica".

Ainda de acordo com o próprio, o objetivo passa por criar um "espaço iconográfico de recuperação da memória coletiva", bem como um enquadramento paisagístico da muralha medieval/moderna do Castelo de Miranda do Douro.

ESQ

FOTOGRAFIAS: Rosa Mateos (arqueóloga responsável, empresa Nova Arqueologia)

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