O presidente da Câmara de Vimioso insistiu hoje que o Presidente da República e o primeiro-ministro têm de alertar as operadoras de redes móveis nacionais para as dificuldades no acesso à Internet no interior do país.
Jorge Fidalgo (PSD) persiste no pedido perante as dificuldades que os alunos e outros utilizadores têm em aceder às redes de dados e comunicações, quando atualmente estes serviços são essenciais para o desenvolvimento destas regiões do ponto de vista social, educacional e económico.
"Os autarcas da Comunidade Intermunicipal (CIM) Terras de Trás-os-Montes têm alertado a Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM) para as dificuldades existentes em termos de comunicações moveis neste território, tudo porque que existem muitas ‘zonas sombra' onde este tipo de tecnologia não chega", disse à Lusa o autarca de Vimioso, no distrito de Bragança.
A reação do autarca surge na sequência de uma reportagem da Lusa que dava conta de que uma aluna de 12 anos de Serapicos, em Vimioso, tem de se deslocar mais de um quilómetro várias vezes ao dia para assistir às aulas ‘online' dentro da carrinha que o pai estaciona num ponto alto da aldeia para apanhar rede.
A aluna tem de se adaptar ao trabalho do pai na agricultura, para assim os dois tirarem rendimento do dia e das deslocações, tentando manter o equilíbrio e a concentração mediante a "complicada" tarefa de aprender à distância naquela aldeia do concelho de Vimioso, onde falta cobertura da rede de Internet das várias operadoras nacionais.
"Quer a CIM Terras de Trás-os-Montes, quer o município de Vimioso já fizeram várias diligências junto Presidente da República [Marcelo Rebelo de Sousa], ministério da tutela, ou outros membros do Governo e da ANACOM, no sentido de alertar para esta situação da falta de rede móvel e Internet. Até ao momento não tivemos respostas concretas", concretizou Jorge Fidalgo.
O autarca social-democrata recorda uma reunião com a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, que decorreu em 17 de junho de 2020, quando houve alguma abertura para aulas presenciais, na qual referiu que todos os alunos têm de ter acesso à Internet.
"A senhora ministra garantiu perante os nove autarcas da CIM Terras de Trás-os-Montes que todos os alunos iriam ter acesso à Internet. Agora atravessamos um momento em que não há computadores para os alunos e nem acesso a rede de Internet", vincou Jorge Fidalgo.
No caso concreto de Vimioso, o autarca garantiu à Lusa que foram distribuídos todos os computadores solicitados pelo Agrupamento de Escolas e os devidos acessos à Internet, num total de uma centena de unidades destes equipamentos, e que há técnicos de informática do município a acompanhar diariamente estes alunos.
"Os alunos têm falhas de rede constantes, apesar dos nossos esforços para minimizar os problemas com as ligações à rede", disse.
Para a autarquia, os alunos com dificuldades de acesso à rede de Internet devem regressar de imediato à escola para terem ligação à rede, já que há logística para transportar estes alunos.
Fidalgo defende que o facto de haver pouca gente nas aldeias do interior, o Estado e as operadoras têm obrigação de investir nestes serviços.
"É lamentável que ao longo dos anos os sucessivos governos tenham sido alterados para este problema e [este] ainda não esteja resolvido", frisou.
O autarca de Vimioso defende a criação de um "roaming nacional" (partilha de infraestruturas entre operadores), à semelhança do mesmo serviço que já existe entre vários países da Europa.
"Agora, não nos podem é pedir para que os municípios tenham contratos com todas as operadoras de rede móvel em simultâneo", defendeu.
Por seu lado, o presidente da CIM Terras de Trás-os-Montes, Artur Nunes, reiterou que aproveitou a oportunidade para falar do tema no Conselho e Ministros realizado em Bragança, em fevereiro de 2020, reivindicando a "presença da rede 5G para toda a região transmontana".
"Queremos que todas as aldeias tenham acesso ao 5G. Acho que é uma grande aposta que o Governo pode fazer e que permitirá servir melhor os cidadãos", disse o também autarca de Miranda do Douro, distrito de Bragança.