O Canelão Pastelaria & Chocolataria, que é, sobejamente, conhecido em Bragança e um pouco por toda a região transmontana, celebrará os 30 anos em 2024, mais precisamente, a 13 de setembro.
Na base desta empresa de origem familiar, está Luísa Correia, a matriarca, mãe de quatro rapagões que, juntamente com o marido, têm levado a bom porto o negócio da doçaria, graças aos conhecimentos e à sabedoria transmitidos pelos seus antepassados.
De uma pequena empresa, na génese do seu nascimento, até uma de tamanho e ambição consideráveis, o Canelão passou, certamente, por vários momentos e etapas de desenvolvimento. Com 58 anos de idade, D. Luísa como é, carinhosamente, conhecida entre os clientes do seu estabelecimento comercial, reconhece que este crescimento, “até aos dias de hoje, não tem sido nada fácil, mas é um orgulho conseguir ter o Canelão neste patamar com a exigência e o rigor que lhe são reconhecidos”.
Apesar do nível já alcançado e de se considerar “realizada com a vida”, o rosto visível da Pastelaria & Chocolataria não pretende ficar por aqui… “Queremos evoluir mais e sermos melhores ainda”, é o seu desejo e fazê-lo em equipa como a que tem consigo, que carateriza como “fantástica” e sobre a qual diz serem “todos maravilhosos”.
Com um caminho feito à base de sangue, suor e lágrimas, Luísa Correia admite ter deixado de parte a sua vida. “Não sei o que é viver, apesar de viver bem, viver feliz, mas não em termos pessoais. Isso não! Foi uma dedicação enorme, uma jura que eu fiz com a minha avó, prometi-lhe que iria fazer tudo, custasse o que me custasse, para ter uma casa com o nome Canelão e assim fiz”, recorda com os olhos humedecidos pelas lágrimas.
E foi já no hospital, que a neta deu a notícia à sua avó doente. “Ficou extremamente orgulhosa quando eu lhe disse que o nome Canelão havia sido aprovado e disse-me, então, que iria ter uma casa muito bonita”, revive, emocionada, a matriarca desta família de seis.
Era a sua avó Sofia a verdadeira Mestra dos Canelões. “A minha avó ficou viúva aos 27 anos com três filhas muito pequeninas e nunca mais casou. Ela vendia os canelões, as farturas e o pão preto ao pé da Caixa Geral de Depósitos e, ainda hoje, as pessoas recordam a minha avó quando olham para os canelões”, lembra, fazendo jus aos tempos conturbados vividos pela sua avó, que no caos se reafirmou para educar as três filhas, uma delas a mãe da D. Luísa.
Apesar da alegria em saber da conquista do nome, a avó Sofia nunca chegaria a ver o Canelão de portas abertas. No entanto, Luísa declara, sem sombra de dúvidas, que “ela está orgulhosa! Eu costumo dizer o seguinte: as três mestras do Canelão já estão as três juntas no céu”, assume, enquanto mulher de fé, referindo-se à avó, à sua tia Amélia, a mais velha das três irmãs, e à senhora sua mãe.
“A minha avó ensinou a minha tia Amélia, que passou a fazer tudo o que a minha avó fazia e, depois, mais tarde, é que ensinou a minha mãe. E a nós, a mim e ao Luís, foi a minha mãe que nos ensinou”, conta, descrevendo a sucessão de acontecimentos que permitiu o nascimento do Canelão, graças à transmissão de conhecimentos passados de geração em geração e cuja sabedoria se perpetua, agora, pelas mãos dos quatro filhos do casal mais doce de Bragança, literalmente.
Aos seus clientes, Luísa Correia proclama, enquanto suspira, que “a eles devo tudo, a eles devo o crescimento do Canelão, a eles devo amizade, gratidão, devo tudo”
Já sobre o futuro, confidencia, “a fábrica está muito bem entregue, o balcão é que os meus filhos não querem. Contudo, por agora, ainda se sente “mais que capaz” e pode “ter o maior problema do mundo, mas abro esta porta e venho com a maior alegria de todas”.
O segredo do sucesso está em “muito querer e só querendo e acreditando é que se consegue. E eu quis sempre muito e continuo a querer”, Luísa Correia
Sobre os quatro irmãos, estão todos envolvidos no negócio, uns mais perto, em Bragança, outros mais longe, Porto e Lisboa, uns mais envolvidos do que outros, mas todos ajudam sempre que podem e dão a sua opinião, mesmo quando ninguém a pede, o que só é normal entre família.
E nunca a expressão com as mãos na massa fez tanto sentido como quando aplicada no Sérgio, já que ele é o pasteleiro que com o pai confeciona os muitos e, comprovadamente, deliciosos produtos vindos diretamente da fábrica localizada no edifício mais alto da cidade.
Saiu de Bragança com 13 anos para descobrir mundo, contudo, marcou sempre presença na pastelaria em tempos de mais trabalho. E como diz o ditado popular, "O bom filho a casa torna", e foi o que Sérgio fez quando decidiu regressar à terra que o viu nascer, Bragança, onde se dedica, então, há 14 anos, à arte da pastelaria e da chocolataria, de alma e coração.
Prestes a chegar ao Natal, o Canelão não tem tido mãos a medir, preparando o stock daquela que é, muito provavelmente, a época mais movimentada do ano no que concerne à pastelaria e chocolataria.
Uma das estreias absolutas para esta quadra festiva será o tronco vegan. Trata-se de proporcionar “variedade a outras pessoas que queiram provar algo diferente daquilo que é derivado animal”, sustenta Sérgio, que enumera os vários ingredientes: “a base é feita de biscoito de cacau, com mousse de frutos vermelhos e chocolate vegan”.
Mas este não é o único produto vegan do Canelão. Aliás, há já três anos que comercializam o bombom vegan com sabor a óleo de coco e grué, que é um derivado do cacau.
Outra das novidades será o tronco de três chocolates, em formato de trenó. Isto para além dos troncos tradicionais como o D. Luís com raspas de chocolate, o D. Luís com chocolate de leite e o tronco red velvet.
Por fim, a terceira e última novidade do final de 2023, que foi apresentada ao público na própria pastelaria, tendo sido dada a provar, como já é costume, aos clientes, é a rabanada especial “que nós já queríamos fazer há algum tempo e decidimos lançá-la, então, este Natal, que é feita de brioche, vai ao forno, ou seja, não é frita, e é servida com ganache de chocolate branco, depois o topping ou é caramelo toffee ou chocolate de leite”, descreve Sérgio, que não se esquece das rabanadas recheadas.
Sobre estas inovações mais recentes, o jovem de 34 anos garante a sua tentativa constante de fabricar novos produtos com os quais as pessoas se identifiquem. “Dentro daquela que é a nossa base, de ano para ano, tentamos sempre mudar algo, fazer algo de novo. Por isso, inovar sim, sempre, não só o interior, mas também o exterior e dar alegria ao cliente, é isso que nos define”, exprime o cientista pasteleiro, pois é necessária uma ciência precisa na arte da pastelaria e da chocolataria, bem como um engenho particular e uma vocação especial para efetivar o resultado da mistura de sabores que, posteriormente, chegam à boca do cliente com o intuito do fazer "sentir bem consigo próprio e verdadeiramente especial".
“Não é logo tudo a correr, primeiro é preciso semear, depois temos de colher e só aí vemos se podemos desfrutar e foi sempre isso que eu transmiti aos meus filhos, até ao dia de hoje”, Luísa Correia
O segredo do sucesso, para Sérgio, é “boa matéria-prima, isso é o mais importante, e gosto por aquilo que se faz, apesar de dar trabalho e muitas chatices, à séria”, confessa, referindo-se às normais discussões no seio de qualquer família, as mesmas que, “no fundo, fazem com que isto vá para a frente, que continuemos a fazer bom produto”, admite, ciente da importância dos pais e dos três irmãos neste negócio que se tem vindo a expandir desde a sua fundação, há quase três décadas.
Sobre as discussões, a mãe de Sérgio diz que só acontecem “porque somos todos muito exigentes com nós próprios e as discussões que há são de trabalho, só. Um quer fazer bem, mas outro quer fazer diferente por acreditar que será melhor”, confidencia Luísa, que crê, genuinamente, que “estas discussões” não só são “saudáveis”, mas, também, são responsáveis “por nos fazer crescer”.
Para esta quadra natalícia, o Canelão disponibiliza, para além das três grandes novidades, todos os produtos típicos de época, idênticos aos de anos anteriores, mudando, por vezes, as decorações ou acrescentando sabores. Até porque, assinala Sérgio, “é a nossa imagem, a nossa marca e não podemos fugir àquela que é a nossa essência”.
“A nível de pastelaria, que nós consideramos a pastelaria gelada, à base de mousses e biscoitos, vamos manter muito do que foi o ano passado. Depois, os vários bolos reis, o tradicional, o de chocolate, o de chila, o de castanha e o de frutos secos, para além de todos os fritos habituais nestas festividades”, divulga o transmontano de gema que com o seu irmão mais novo anda sempre a mil, tamanha é a quantidade de trabalho por estes dias.
De sublinhar que os produtos estarão disponíveis ao público a partir do dia 20 de dezembro, sendo que as encomendas podem ser feitas antes.