O Bloco de Esquerda (BE) critica a "postura displicente" e o "silêncio" do Governo perante a exploração mineira de volfrâmio a céu aberto prevista para Calabor de Sanabria, Espanha, a dois quilómetros da fronteira portuguesa.
Os dirigentes distritais do BE deixam, inclusive, a garantia de que estão solidários com as populações, nomeadamente, das aldeias de Rio de Onor, Aveleda e Varge, no concelho de Bragança, que poderão ser "imensamente afetadas pela exploração mineira".
"A Comissão Coordenadora Distrital do BE de Bragança vê e sente com espanto a postura displicente e o silêncio do Governo português perante a exploração mineira a céu aberto que se prevê em Calabor, com evidente e pesado impacto na saúde das populações, assim como nos cursos de água da bacia hidrográfica do Douro e ainda no Parque Natural de Montesinho, podendo mesmo afetar a nível de extinção espécies protegidas de fauna e flora", evidencia o BE, em comunicado enviado à redação.
De acordo com o Bloco, o Governo “não pode ser conivente e permitir abusos junto à fronteira, dos quais resultados advenham consequências gravosas para o ambiente e a população portuguesa”. Até porque, refere, "o próprio estudo de impacto ambiental aponta para resultados severos", sendo que “o efeito mais óbvio é produzido pela destruição do habitat [de várias espécies]”, causando "prejuízos na fauna e na flora".
E se no país vizinho, a exploração situar-se-á em plena zona ecológica da Rede Natura 2000, "o mesmo se poderá dizer relativamente ao Parque Natural de Montesinho que deve ser preservado com um investimento crescente e não com estes atropelos à biodiversidade e aos seus ecossistemas", sublinha a Comissão Coordenadora Distrital de Bragança do BE, que exige ao Governo “uma tomada de posição oficial na defesa destas populações e destes territórios”.
Associação RIONOR defende a não instalação da Mina de Valetreixal em Calabor de Sanabria
Também a Rede Ibérica Ocidental para uma Nova Ordenação Raiana (RIONOR), criada para defender os direitos e interesses das populações dos territórios raianos de baixa densidade do Noroeste Ibérico, se manifestou contra o projeto da instalação da mina a céu aberto de extração de volfrâmio em Calabor.
"Apesar de estarmos conscientes que são necessários empreendimentos que fixem populações nesta região e que todos eles acarretam impactos ambientais, a instalação da Mina de Valetreixal em Calabor a céu aberto, infelizmente, gera muito poucos empregos e os malefícios são incalculáveis, cabendo aos territórios de Portugal a contaminação dos rios e dos terrenos de cultivo", salienta a associação, que acredita que a mina "contribui para a destruição do meio ambiente e dos habitats de fauna bastante diversificada, prejudica os cultivos agrícolas, impede o desenvolvimento de empreendimentos turísticos e contribui para o grave problema do êxodo rural".
Segundo a RIONOR, "a obtenção de um miligrama do mineral procurado requer a mobilização de uma ou várias toneladas de materiais acompanhantes, alguns deles incompatíveis com a vida, que se estabilizam e permanecem na superfície a céu aberto e que serão levados pelos agentes meteorológicos para áreas de cultivo e depois diluídas nas águas que circulam e ocupam as camadas freáticas superficiais". Para além de que "este projeto está situado numa zona de elevado valor ecológico incluída na sua totalidade na Rede Natura 2000, zona protegida por Diretivas Europeias, e é incompatível com a filosofia da Reserva da Biosfera ” Planalto Ibérico "onde se localiza este território", defende.
Por último, mas não menos importante, a associação considera que "as Administrações não têm legitimidade para tomar decisões que ponham em perigo a vida das populações que residem nos dois lados da fronteira e que todas essas comunidades vizinhas têm direito a ser ouvidas e a sua vontade respeitada, por não serem ilhas independentes e isoladas".