A associação de conservação da natureza Palombar vai implementar o projeto "SentinelaS" que consiste na marcação e seguimento de grifo como ferramenta de combate ao uso ilegal de venenos e outras ameaças à biodiversidade no Norte.
"O projeto tem como principal objetivo criar uma rede de sentinelas através da marcação, com dispositivos GPS e anilhas, de exemplares de grifo que possibilite obter informação sobre o uso ilegal de venenos no Norte de Portugal", concretizou à Lusa o coordenador da iniciativa, João Santos.
O, também, biólogo da Palombar avançou que numa primeira fase do projeto "SentinelaS", serão marcados com sistema GPS, 15 grifos/abutres, espalhados por toda a região Norte.
A Palombar - Associação de Conservação da Natureza e do Património Rural é uma entidade sem fins lucrativos, criada em 2000, que tem como missão conservar a biodiversidade, os ecossistemas selvagens, florestais e agrícolas e preservar o património rural edificado, bem como as técnicas tradicionais de construção, estando sedeada no concelho de Vimioso.
"O uso de venenos em campos agrícolas ou mato representa um sério problema para a conservação da biodiversidade, dos ecossistemas e para a saúde pública. Este mecanismo de marcação de grifos permitirá obter dados sobre a mortalidade por envenenamento e sobre a distribuição espaciotemporal do risco/exposição aos venenos para espécies necrófagas", vincou o técnico.
A rede de grifos-sentinelas marcados com um sistema GPS será implementada em quatro Zonas de Proteção Especial (ZPE) situadas no Norte do país, nomeadamente nas ZPE Serra do Gerês, Montesinho/Nogueira, rios Sabor, Maçãs e Douro Internacional e Vale do Águeda.
As áreas abrangidas pela Rede Natura 2000, onde existem importantes populações de aves necrófagas, serão, igualmente, contempladas pelo projeto "SentinelaS".
"Todos estes territórios estão também inseridos em Sítios de Importância Comunitária (SIC) da Rede Natura 2000, sendo que dois deles coincidem ainda com parques naturais, no caso de Montesinho e do Douro Internacional, e um com Parque Nacional, no caso da Peneda-Gerês", especificou o biólogo.
Segundo os técnicos da associação Palombar, adicionalmente o projeto contribuirá para avaliar outras ameaças para as aves necrófagas, tais como mortalidade e risco de colisão com linhas elétricas e/ou aerogeradores em parques eólicos.
Outra das ações passa por recolher informação sobre a disponibilidade de alimento no campo para estas espécies, nomeadamente cadáveres, em geral, e daqueles procedentes das atividades pecuárias extensivas, em particular, os quais são fundamentais para a manutenção e conservação das suas populações.
O projeto terá um 'website' e está já presente nas redes sociais Facebook e Twitter.
"Tendo em conta que o uso de venenos está intrinsecamente associado a uma forte componente social, o projeto contará também com uma abordagem de educação e sensibilização ambiental das comunidades locais nos concelhos da sua área de implementação", observou João Branco.
Em áreas protegidas ou incluídas na Rede Natura 2020, de acordo com técnicos e ambientalistas, "existe um elevado risco de uso de venenos" devido "a potenciais conflitos com a fauna silvestre", em particular "porque são zonas onde se pratica pastoreio extensivo e onde o lobo está presente".
Por outro lado, são territórios com zonas de caça e com presença de "mesocarnívoros" predadores, tais como a raposa e alguns mustelídeos e viverrídeos, e aves de rapina.
Este projeto tem uma dotação financeira para dois anos e meio de trabalho, de cerca de 150 mil euros, sendo financiado pelo Fundo Ambiental - Ministério do Ambiente e da Transição Energética, em parceria com a Universidade de Oviedo, Espanha.
O primeiro ano de execução do "SentinalaS" tem uma dotação de 76 mil euros.
A iniciativa também permitirá que Portugal "fique cada vez mais alinhado" com a tendência que a União Europeia pretende estabelecer, "no sentido de que exista uma maior coordenação entre os Estados membros para combater este e outro tipo de crimes ambientais".
FOTOGRAFIA: BMF