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Caretos de Torre de Dona Chama já são património cultural nacional

As Festas dos Caretos, dos Rapazes e de Santo Estêvão de Torre de Dona Chama, no concelho de Mirandela, acabam de ser inscritas no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.

O distrito de Bragança passa a ter duas festas relacionadas com os tradicionais mascarados com o estatuto de património cultural nacional, depois do Entrudo Chocalheiro dos Caretos de Podence, em Macedo de Cavaleiros, que se tornaram, há quase três anos, Património Imaterial da Humanidade.

A decisão da Direção-Geral do Património Cultural relativa a Torre de Dona Chama foi ontem publicada em Diário da República e destaca a “importância de que se reveste esta manifestação do património cultural imaterial enquanto reflexo da identidade da comunidade envolvente e a sua profundidade histórica e evidente relação com outras práticas inerentes à comunidade”.

As festividades, que ocorrem no Natal nesta vila do concelho de Mirandela, fazem parte das chamadas Festas de Inverno do Nordeste Transmontano, também conhecidas como Festas dos Caretos, dos Rapazes e de Santo Estêvão, que se prolongam do Natal ao Carnaval.

O pedido do registo no inventário nacional das festas de Torre de Dona Chama foi feito pela Dona Flâmula, a associação local para a defesa do património de Torre de Dona Chama.

A Direção-Geral do Património Cultural teve o processo em consulta pública, até ao início de agosto.

A responsável pela documentação da candidatura foi a técnica Patrícia Cordeiro, que conduziu também o processo do Entrudo Chocalheiro dos Caretos de Podence, em Macedo de Cavaleiros.

Durante três anos, a técnica observou os rituais que se repetem anualmente a 25 e 26 de dezembro e concluiu que, “de todo o conjunto de festas de inverno em Trás-os-Montes, as da Torre de Dona Chama são talvez a festa mais completa, que reúne mais elementos, que hão de derivar de outras festividades no tempo”.

São quase como que colagens de vários momentos e a verdade é que encontramos ali momentos, temos o sagrado e o profano, as festas dos rapazes e dos caretos, mas temos também uma corrida da mourisca, um momento de teatro popular da reconquista cristã, e isso é muito incomum nestas festas transmontanas”, descreveu à Lusa, aquando da discussão pública do processo.

Além de Festas dos Caretos, dos Rapazes e Santo Estevão de Torre de Dona Chama, estas são também conhecidas como “Ciganada”, com homens a vestirem-se de mulheres e vice-versa com o rosto tapado por um pano das tradicionais rendas de croché.

Burricada” é outras das denominações devido à tradição de roubar burros, com o significado de despojar os mouros de meio de transporte para fugirem e que está relacionado com a “Mourisca” ou “Correr/Corrida (d)a Mourisca”, a encenação da reconquista cristã.

Ainda não foi possível obter uma reação à inscrição no inventário nacional do presidente da Associação Dona Flâmula, António Reimão, que anteriormente explicou à Lusa que esta encenação teatral é uma especificidade destas festas, onde não falta a fogueira comunitária de Natal, a missa e o deitar os jogos à praça, em que um grupo munido de funis a fazer de altifalantes vai de casa em casa e obriga o dono daquela a quem atribuir uma alcunha a apresentar-se em praça pública a condizer com a alcunha.

António Reimão salientou que estas festas são das mais antigas, com séculos, e que se realizam de forma continuada, com a exceção dos dois anos de pandemia, na região.

Uma comissão de festas e a população da vila, com pouco mais de mil habitantes, garantem que se repete de ano para ano a tradição que já “foi estudada por muita gente, incluindo uma austríaca que pegou nela do ponto de vista musical”.

O processo para a inscrição no inventário nacional teve o apoio financeiro de um programa da EDP e da Câmara de Mirandela para os cerca de 20 mil euros gastos, segundo o presidente da associação.

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